“Pastoral Americana”, de Philip Roth

pastoralamericana.jpgSeymour Levov, conhecido como o Sueco, é um judeu norte-americano bem sucedido. Na escola, era o ídolo dos colegas, membro destacado das equipas de futebol americano e de basquetebol. Herdou, do pai, uma fábrica de luvas, em Newark, e foi um patrão exemplar, não discriminando empregados, quer pelo sexo, quer pela etnia. Casou com Dawn, uma católica – e aí, teve que afrontar o pai, muito mais ortodoxo do que ele e para quem foi muito difícil aceitar uma nora não judia. Mas Dawn era linda, tinha sido Miss New Jersey e revelou-se uma esposa exemplar, tomando conta de uma quinta, onde criava vacas.

Levov era o retrato do norte-americano feliz e realizado, sempre fazendo “the right thing”. Depois nasceu a filha, Merry e a família viveu feliz e próspera até começar a guerra do Vietnam e Merry, que entretanto chegara à adolescência, se ter transformado numa militante radical anti-guerra.

Merry levou o seu radicalismo ao extremo, colocando uma bomba na estação de correios que, ao explodir, matou acidentalmente um médico idoso e respeitado em toda a comunidade judaica. Merry passou à clandestinidade, foi responsável por outros atentados, nos quais morreram mais três pessoas e, anos depois, abraçou a religião Jain, não comendo seres vivos e recusando-se a tomar banho, para não conspurcar a água.

Levov viveu anos de desespero, sem saber onde parava a filha, sem compreender a sua atitude, mas sempre fazendo “the right thing”.

Nem sempre os bons são recompensados, nem sempre a “normalidade” gera “normalidade”, não está escrito, em lado nenhum, que a vida é justa.

Roth é um dos meus escritores favoritos e, neste livro, para além de ser torrencial, como de costume, interpreta muito bem os sentimentos de um homem que não consegue perceber o que fez de errado para merecer uma filha assim. Se calhar, na vida, uma coisa não tem que forçosamente levar a outra.

Com este livro, Roth ganhou o Prémio Pullitzer, em 1998. A edição portuguesa é da D. Quixote, com tradução de Maria João Delgado e Luisa Feijó.

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