Os bons e os maus, segundo os media

A comunicação social deixou de ser imparcial há muito tempo. Sobretudo nas televisões.

Hoje em dia, raramente podemos assistir à transmissão de uma notícia.

Segundo o Grande Dicionário de Língua Portuguesa (obra em doze volumes, da responsabilidade da Sociedade de Língua Portuguesa, editada em 1981, quando óptimo ainda levava o pê…), notícia significa “conhecimento, informação; nota, observação, apontamento; resumo, exposição sucinta de um acontecimento”, etc.

Gosto desta última definição: exposição sucinta de um acontecimento.

Exactamente o contrário do que se passa, hoje, em dia, na comunicação social televisiva.

O massacre informativo banaliza a verdadeira importância dos acontecimentos.

E a tomada de posição dos jornalistas, que deviam ser isentos e imparciais, desvirtua a realidade.

Os acontecimentos na Venezuela são um bom exemplo. A comunicação social decidiu que Juan Gaidó é bom e Nicolás Maduro é mau.

A partir deste pressuposto, todas as notícias sobre a Venezuela pecam por parcialidade. Então, se o povo da Venezuela está à míngua, cheio de fome, com uma inflação galopante, sem medicamentos, morrendo nos hospitais por falta de assistência, vegetando à fome por falta de alimentos, como se explicam as manifestações a favor de Maduro, onde milhares de venezuelanos dançam, cantam e clamam pelo chefe supremo?

Mas Guaidó é apoiado pelos Estados Unidos e Maduro, pela Rússia – portanto, mais uma razão para os media considerarem Guaidó bonzinho e Maduro, um perigoso ditador.

Sendo apoiado pelos EUA, Guaidó tem o apoio de Trump. Ora, Trump é mau, segundo os media. É um bronco, mente constantemente, é obsceno, mal-educado e inculto – o contrário de Obama, que era bonzinho, muito delicado, tinha uma mulher inteligente, ambos pretinhos e tudo!

Trump é quase tão mau como Bolsonaro, que é nazi, retrógrado, reaccionário.

Quem já foi muito má e agora é excelente, foi Angela Merkel. No tempo da troika, a senhora era péssima; depois, quando decidiu acolher refugiados, passou a ser muito boazinha, sobretudo em compensação com aquele tipo da Hungria, que é mesmo muito mau.

No que diz respeito a França é que a coisa está mais complicada. Os coletes amarelos são maus porque partem montras, mas são heróis porque têm um luso-descendente entre os chefes, que até perdeu um olho numa manif. Claro que o Macron é mau, porque apoia os ricos e não quer saber dos coletes amarelos, mas se calhar é bonzinho porque vai reconstruir a Notre Dame em cinco anos…

E acho que chega para mostrar o meu ponto de vista.

Um acontecimento deve ser noticiado como aconteceu, sem mais devaneios ou pinceladas da autoria do jornalista que, assim, se quer tornar o centro da notícia.

É frequente ouvirmos os jornalistas queixarem-se das condições de trabalho, que a polícia não os deixou entrar, que o político não respondeu às perguntas, que a sala tinha má acústica. E este é o principal problema de algumas profissões.

O principal objecto da medicina são os doentes, da educação, são os alunos e do jornalismo, é a notícia.

O resto é encher chouriços.

PS – Como é possível que um jornal televisivo demore hora e meia e apenas se detenha sobre três ou quatro notícias?…

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