O escritor da moda

Sou do tempo em que o Círculo de Leitores se instalou em Portugal e, com ele, a moda das lombadas a metro. O pessoal comprava a estante e, depois, consoante o tamanho das prateleiras, encomendava os livros ao agente do Círculo. Há por aí muita obra completa de Aquilino Ribeiro, muita enciclopédia ilustrada do corpo humano, muita maravilha da natureza em 22 volumes, que continuam na tal estante, ainda por desvirginar.

A pouco e pouco, a moda das lombadas a metro foi sendo substituída pela escrita a metro. Inventou-se a literatura light: não pesa nas células cinzentas, embora seja óptima para as estantes, devido à espessura das lombadas.

Em 2004, com “O Código Da Vinci”, Dan Brown reinventou a literatura de aeroporto. José Rodrigues dos Santos seguiu-lhe as pisadas. Parece que já vendeu meio milhão de livros.

Nunca li nenhum dos calhamaços de J. R. Santos, portanto, nada vou dizer sobre a sua escrita. Apenas quero chamar a atenção para esta publicidade da Bertand.

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Resumindo: envio um SMS por cada livro do Santos que comprar e habilito-me a ganhar um jantar com o próprio!

Vejam lá que bela ideia!

É pena que os editores não tenham tido esta ideia há mais tempo. Quantos “Os Lusíadas” venderia Camões, se a sua editora tivesse lançado a campanha: “ganhe um duelo com o Zarolho”. E o desgraçado do Fernando Pessoa teria enriquecido e talvez não morresse tuberculoso, se a sua editora tivesse tido a ideia de o promover oferecendo um encontro com todos os heterónimos, ao mesmo tempo.

Este jantar com o escritor Santos será um prémio por ter lido ou por ter comprado o seu livro?

Imagino que, depois, durante o jantar, Santos e o feliz contemplado conversarão sobre os futuros enredos dos próximos livros e também sobre os malandros da administração da RTP, que querem despedir tão famoso jornalista, logo agora, que acaba de lançar mais um livro, embora, valha a verdade, o facto de aqueles malandros o quererem despedir, até está a dar muito jeito, porque sempre se fala muito nele e falar muito nele é bom para a venda do livro.

Agora, fora de brincadeiras: não tenciono concorrer; jantar com José Rodrigo dos Santos não me estimula. Preferia, por exemplo, caçar com Miguel Sousa Tavares, tomar banho com Margarida Rebelo Pinto, deprimir-me com António Lobo Antunes, ou mesmo, dormir com José Saramago.

3 thoughts on “O escritor da moda

  1. Olha que eu não sei… sempre achei que o Hawking era um grande pantomineiro e que aquilo da cadeira de rodas é só para ser o primeiro a embarcar no avião…

  2. A propaganda da Bertrand não lembra a ninguém.

    Eu li alguns dos romances de JRS e, fugindo ao habito bem português de dizer mal do nacional que o estrangeiro é que é bom, gostei.

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