Moiros de trabalho

Gosto muito do que faço e só trocava isto por fazer coisa nenhuma.

É um sonho antigo: ser pago para não fazer nada ou, melhor ainda, ser pago por não fazer nada.

Mas enquanto esse sonho não se concretiza, tenho que trabalhar.

Em média, são 45 horas por semana, mas há semanas piores, em que posso chegar às 62 horas semanais.

Cada vez que isso me acontecia, ficava ligeiramente preocupado. Trabalhar mais de 48 horas por semana é ilegal e não me apetecia nada, depois de tanto trabalho, ainda levar com uma multa em cima.

Agora, estou mais descansado.

O Conselho Europeu dos ministros do Trabalho e dos Assuntos Sociais aprovou uma directiva que permite aos estados membros alargar o limite do horário semanal de trabalho até às 65 horas!

A luta de gerações de trabalhadores, que pugnaram pelo fim do trabalho escravo do sol-a-sol, foi toda por água abaixo.

A partir de agora, nada pode impedir os patrões de exigirem serões aos seus trabalhadores.

No tempo da ditadura, a propaganda do regime inventou uma coisa chamada Serões para Trabalhadores, que era assim uma espécie de espectáculos de variedades, organizado pela FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho) e que se destinavam a entreter as famílias (já repararam como as coisas tinham nomes sinistros, no tempo da Outra Senhora?…)

Agora, com 65 horas semanais de trabalho, os serões para trabalhadores transformar-se-ão em outra variedade de espectáculo: trabalhar mais pelo mesmo ordenado.

Obrigado, União Europeia!

4 thoughts on “Moiros de trabalho

  1. … Fui ler um pouco mais fundo e na verdade esta possibilidade da semana de trabalho ir até às 65h/sem é apenas um possibilidade e apenas com o acrodo expresso entre entidade patronal e colaborador. Mais acresce que, a introdução destas alterações deve-se essencialmente ao ilegal funcionamento da quase totalidade dos sistemas de saúde dos países europeus, no que concerne aos horários de trabalho, e esta?? Pois é, com vista à eliminação da ilegalidade laboral que muitos países incorrem nos sistemas de saude nacionais, ao invés de reduzir os horários de trabalho para a legalidade não, alteramos a lei… espectacular! Boa notícia para os médicos o chamado “plantão”, continua a ser considerado para integrante do horário de trabalho, mas teve por um fio…
    …PORTUGAL… PORTUGAL!

  2. Pois, Bintxo, eu também vi que a União Europeia veio a correr corrigir a notícia, dizendo que, tal e coisa, só com o acordo dos trabalhadores e tal… Mas eu estava a fazer blague… Eu sou do tempo em que a Esquerda política pugnava pelo Direito à Preguiça, defendendo o Direito ao Trabalho, enquanto a Direita pugnava pela Dignidade que o Trabalho conferia, e tentava não fazer nenhum. Eu sei que isto é conversa mole e que para as novas gerações, esta conversa da Direita e da Esquerda já não faz muito sentido – no entanto, apenas registo, como curioso, que a União Europeia, agora dirigida por gajos da minha geração, já aceite horários semanais de 65 horas quando, em 1968, nas ruas de Paris, por exemplo, andaram a lutar pelo Direito à Preguiça!

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