Lugares comuns

Para mim, o Pedro Abrunhosa não me diz nada. Acho pateta aquela encenação da cabeça rapada e os óculos escuros e acho que o tipo já tem idade para ter juízo. Achei-lhe alguma graça, lá por volta de 1995, quando era preciso ter calma e ele não dava o corpo pela alma, mas foi mais à custa do americano do saxofone. Daí para cá, uma vulgaridade.

Acontece que a TSF tem uma obsessão pelo Abrunhosa e pelo Jorge Palma, algo que não se percebe. Ou é doença dos locutores de continuidade ou há explicações mais prosaicas. Enfim… o que acontece é que tenho o rádio que está por cima da sanita sintonizado para a TSF. É lá que oiço as notícias das 7 da manhã, todas as manhãs. E, antes das notícias, é muito frequente levar com o Palma ou o Abrunhosa.

Estou-me a cagar para ambos, literalmente, mas irrita-me a vulgaridade armada ao pingarelho…

Explico melhor:

Tinha eu cerca de 14 anos quando os meus pais me ofereceram uma guitarra. Adolescente com guitarra e que aprenda meia dúzia de acordes, começa logo a compor canções. É dos livros. Então, eu compus uma canção intitulada “Vou”, apenas com três acordes, o mi, o ré e o lá, tudo em tom maior, claro.

Orgulhoso, decidi mostrar essa minha canção num jantar familiar. Uma das estrofes da cantiga dizia: “sozinho pela estrada/ com os bolsos cheios de nada/vou…”

Aí, o meu tio Xico, que era jornalista no Mundo Desportivo, zombou: “com os bolsos cheios de nada? que parvoíce é essa? se estão cheios, não podem ter nada…”

Eu ainda pensei em explicar que aquilo era uma figura de estilo, uma coisa poética e tal, mas quem era eu para pôr em causa a sapiência de um tio, ainda por cima, jornalista?

Passaram 40 anos e oiço o Abrunhosa, na sua cantiga “Fazer o que ainda não foi feito”, a dizer que tem “uma mão cheia de nada”!

A cantiga, que também só tem três ou quatro acordes, é o cúmulo do lugar comum, quer na música, quer na letra, incluindo pérolas como “trago-te em mim, mesmo que chova no verão”, “és um mundo com mundos por dentro”, “amanhã é sempre tarde demais”, “esse teu corpo é o teu porto” e outras banalidades assim.

E a TSF, que passa tão pouca música, gasta minutos com vulgaridades destas.

Ó Abrunhosa, vê se amadureces, pá que eu, aos 14 anos, já tinha os bolsos cheios de nada!

6 thoughts on “Lugares comuns

  1. Já fui brindado com esse hino do Abrunhosa, precisamente na TSF, um destes dias no carro e de facto ensaiei uma expressão de enjôo assim que ele começou com a sua profunda poesia.

    Mas o tema “a música que as rádios passam”, dava um ensaio; por exemplo, oiço a Radar no carro e aquilo consegue ir do “epá, isto é giro, o que será?” (nunca se descobre o que é, porque eles não dizem, ou dizem de uma maneira imperceptível), até ao “por favor alguém ensine este rapaz a cortar os pulsos e o mande para casa, para ver se se cala!”.

  2. Artur, subscrevo o que diz do Abrunhosa, que até nem parece má pessoa, mas, cantar não sabe, e as letras é aquilo que diz.
    O que me espanta é que continue a sintonizar a TSF, que mais de metade do tempo dedica a publicidade.
    Exprimente a Marginal.

  3. Marginal, M80 e EuropaLX são rádios que acho que vai gostar bastante. :) A última (EuropaLX) é mais virada para o jazz.

    Um abraço,

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