“Mártir”, pela Companhia de Teatro de Almada

O texto (muito bom), é de Marius von Mayenburg (n. Munique, 1972), um autor, tradutor e encenador alemão, da companhia berlinense Schaubuhne, que tem tido uma carreira muito elogiada.

A encenação (muito boa), é de Rodrigo Francisco, actual director artístico da Companhia de Teatro de Almada e do Festival de Almada.

A interpretação cabe a um grupo de actores todos muito bons, com destaque para Vicente Wallenstein, Benjamin, o protagonista, um jovem adolescente às voltas com os diversos problemas da puberdade e que encontra na Bíblia (que interpreta à letra) a resposta para tudo.

À sua volta gravita uma mãe desorientada (Tânia Guerreiro), um professor de natação que se está nas tintas (Pedro Walter), uma professora de Biologia que tenta compreendê-lo mas acaba por entrar em guerra aberta com ele (Inês de Castro), um padre (André Albuquerque), o director da escola (João Cabral), uma aluna e colega (Ana Cris), e um aluno com uma deficiência numa perna (Ivo Marçal).

Durante hora e meia assistimos à radicalização de Benjamim, que cita versículos da Bíblia a propósito de tudo, da identidade sexual (abominando os homossexuais), da identidade de género (menosprezando as mulheres), da família, da violência, da guerra…

E por causa das suas atitudes, vemos a desorientação da mãe, divorciada, e que não percebe nada do que se está a passar com o filho; as discussões entre o director da escola, que quer evitar conflitos, não assumindo uma posição definida, mas acabando por entrar em guerra com a professora de Biologia; esta, por sua vez, ao tentar compreender o que se passa com Benjamim, entra em conflito com o professor de natação, seu companheiro, e que se está nas tintas para tudo; uma aluna que tenta seduzir o rapaz; um aluno com deficiência, que é vítima de agressões constantes e humilhações e que procura, em Benjamim, mais do que um amigo; e um padre, que apesar de ser o representante de Deus, também não percebe nada do que se passa e tenta conquistar Benjamim para que ele cataquise outros.

Repito: excelente texto e superior representação!

Tradução de Manuela Nunes; Cenografias de José Manuel Castanheira; Figurinos de Ana Paula Rocha; Desenho de Luz de Guilherme Frazão e mais uma extensa equipa de colaboradores.

Desmanches

Está deprimido, costuma desmaiar, tem insónia, sente nervosismo ou medo, tem dores de cabeça constantes, sofre de maldição hereditária, tem vícios, vive na miséria, está atolado de dívidas, foi à falência, é vítima de inveja e/ou de bruxaria, costuma ouvir vozes espirituais, vê vultos, é infeliz no amor, pensa em matar-se ou tem problemas familiares?

Esta igreja resolve todos estes problemas – mas só às sextas-feiras, que nos outros dias da semana tem mais que fazer…

Em compensação, nesse dia, há quatro turnos para desmanchar todo o mal: às 8, às 10, às 15 e às 20 horas.

Pressupõe-se que, se o mal for muito complicado, não deve escolher a sessão das 8 da manhã porque só terá duas horas para resolver o problema – já que há outra sessão logo às 10 horas. Talvez seja recomendável a sessão das 15.

Deve ser o caso, por exemplo, da maldição hereditária, sobretudo quando ela já vem do tempo dos bisavós.

Também deve ser complicado se a pessoa sofrer de mais males simultaneamente.

Convenhamos que estar deprimido, ter um vício, ser vítima de bruxaria, ouvir vozes, ver vultos e ser infeliz no amor, tudo ao mesmo tempo, para além de ser uma grande maçada, deve ser muito difícil de desmanchar.

No entanto, há uma coisa que não compreendo: esta lista foi feita aleatoriamente ou por ordem de frequência? Quer dizer, sem dúvida que a depressão, os desmaios, o nervosismo, a insónia e o medo devem ser dos males mais frequentes, por isso ocupam os dois primeiros lugares, mas colocar os problemas familiares em 12º lugar, parece-me errado.

De qualquer modo, ficam a saber: a IURD desmancha tudo isto e aqui bem perto, na Cova da Piedade.

Bem haja!

Curiosidades linguísticas: o verbo foder

O facto do cardeal de Lisboa ter aconselhado continência aos recém-casados despertou-me a curiosidade no que respeita ao significado dessa palavra.

Continência significa, então, privação (voluntária ou forçada) dos prazeres sexuais, mas também, cortesia militar.

Não deixa de ser curioso que a mesma palavra possa ter este duplo sentido: por um lado, privares-te de um prazer sexual e, por outro, ser cortês militarmente falando…

O que nos leva ao verbo foder.

A palavra foder é considerada uma obscenidade, mas não temos alternativa.

Se, em vez do verbo cagar (outra obscenidade), podemos dizer evacuar e se, em vez de mijar, podemos dizer urinar, em vez de foder, dizemos ter relações, o que é pouco adequado.

E é sempre no plural, não sei se já repararam.

Posso dizer, por exemplo, “tenho uma relação com o meu cão”, mas nunca “tenho relações com o meu cão”.

Isso seria zoofilia.

Portanto, ninguém diz “ontem tive uma relação com a minha mulher”, mas sim “ontem tive relações com a minha mulher”.

Mesmo que só tenha sido uma vez.

Claro que se disser “fodi a minha mulher” ou “comi a minha mulher”, é uma ordinarice.

Em suma, foder não tem termo alternativo – e comer, embora se conjugue da mesma maneira, também não se deve usar neste contexto.

No entanto, há tempos verbais que dão mais categoria ao verbo foder.

Se usarmos, por exemplo, o futuro simples, na segunda pessoa do plural, e dissermos: “se vós foderdes”, até parece uma coisa monárquica.

Voltando ao cardeal patriarca.

D. Manuel Clemente, no fundo, disse aos recasados: “ide e guardai continência”.

Ora aí está outro verbo curioso: o verbo ir que, de certo modo, está relacionado com o verbo foder, já que o objectivo final de foder é vir-se, que é a forma reflexa do verbo ir.

Em conclusão, e ao contrário da opinião do cardeal, dir-vos-ei, casados, solteiros e recasados, ide e fodei em paz.

E que o Senhor vos acompanhe, se for caso disso…

Deixem-se de porcarias!

Imaginem um homem e uma mulher que se casam pela igreja e que, afanosamente, tentam fazer um filho, fornicando quase todos os dias.

A Igreja católica abençoa-os.

Crescei e multiplicai, é a palavra do Senhor.

Ao domingo, depois de uma semana de intenso fornicanço, o casal vai à missa e comunga.

Tudo normal.

Mas eis que os meses passam, os anos passam e nada de criancinhas, por mais que o casal fornique.

As coisas começam a correr mal entre o homem e a mulher.

Separam-se.

Divorciam-se.

Algum tempo depois, um deles conhece outra pessoa.

Decidem casar mas, como são muito católicos, não fornicam sem, primeiro, ir pedir a opinião ao padre.

O padre socorre-se do documento do Cardeal Patriarca, D. Manuel Clemente, recentemente divulgado (confirmar aqui) e avisa-os:

“Podeis casar mas não podeis foder!…”

E comungar? – pergunta o casal, ansioso…

“Hum… se vos portardes bem… mas nada de fornicanço!…”

O casal entreolha-se e pergunta: e sexo anal? e sexo oral? e sexo manual?

O padre, aflito, vasculha o documento de D. Manuel Clemente.

Contém seis alíneas, mas nenhuma fala em sexo oral, anal ou manual – só em continência!

O padre encolhe os ombros e diz: “Olha, seja o que Deus quiser!”

 

Portugal dos Pequenitos #1

Resumo do episódio desta semana:

Rui Rio anda à procura de casa em Lisboa, desde que foi eleito líder do PSD; enquanto não encontra, está hospedado numa hotel de 3 estrelas.

Hugo Soares, líder do grupo parlamentar do PSD, decide ir ter com Rio e coloca o seu lugar à disposição.

Rio declina e diz que quer continuar a dormir no hotel.

Entretanto, Pinto da Costa exige ir ver os estragos na casa de banho do Estádio do Estoril.

Olhando para a racha na parede, exclama: “Já vi rachas maiores!”

Todos se riem.

A cena muda para um jovem universitário que diz que respondeu a um inquérito sobre a Sida.

Faz parte dos 27% que responderam que achavam que a Sida pode ser transmitida por um talher.

Jura que nunca mais enfia a colher na vagina das namoradas.

Logo a seguir, vemos José Sócrates combatendo os vírus informáticos que atacaram as gravações das escutas telefónicas da Operação Marquês.

Alguém fala ao telefone com alguém mas só se percebe parte do que é dito: “Está… pois…. dinheiro… emprestas… aldrabão…. foge… inconstitucional… porra!”

Sócrates sorri. O seu rosto diz tudo: águas de bacalhau.

A última cena passa-se numa igreja de Nelas, onde um padre ucraniano, casado e com filhos, diz missa.

Será que sobrevive?

Esperemos pelas cenas dos próximos capítulos.

 

Nossa Senhora: demita-se!

“De um dia para o outro, o ambiente toldou-se – como se Nossa Senhora de Fátima, depois de ajudar o Governo durante um ano e meio, lhe houvesse voltado as costas.

De facto, a tragédia que se abateu sobre Pedrógão Grande e o roubo de material de guerra em Tancos parecem obra do demónio”

  • José António Saraiva, no semanário Sol, hoje

É assim que a Direita vê as coisas.

O sucesso do Governo da Geringonça durante um ano e meio, foi obra da Nossa Senhora de Fátima.

A tragédia de Pedrógão e o roubo de Tancos, são obra do demónio.

Portanto, pedir a demissão da ministra da Administração Interna e do ministro da Defesa parece-me ocioso.

Que se demita a Nossa Senhora de Fátima, carago!

Nem no ano em que o bonzinho Papa Francisco veio a Portugal, ela nos dá uma ajudinha?!

Ingrata!

Um bispo muito pouco católico

D. Carlos Azevedo – aí está um bispo que tem ideias próprias.

Antes de continuar, gostaria de perguntar por que raio os bispos têm direito a Dom.

Então, D. Carlos Azevedo diz, por exemplo, isto:

 

 

 

 

 

 

Ora se Maria não vem do céu por aí abaixo, como raio apareceu ela em cima de uma oliveira, ali para os lados de Fátima?

Mas o bispo diz mais:

 

 

 

 

 

Se Nossa Senhora não aprendeu português para falar com Lúcia, como raio soube ela que o 3º segredo de Fátima era sobre o fim da União Soviética?

Foi por gestos?

Com bispos destes, a igreja católica não precisa de ateus!

Hóstias para Venezuela!

A Páscoa aproxima-se e a Venezuela não tem farinha, nem para hóstias!

Segundo, a freira Concépcion Gómez, superiora das Servas de Jesus, em Caracas, “se não há farinha, não há hóstias, e sem hóstias não há eucaristia”, que é como quem diz “sem dinheiro, não há palhaços e, sem palhaços, não há circo”.

De facto, o que neste momento deve preocupar mais os venezuelanos, é o facto de não haver farinha que chegue para as hóstias.

O pão e os bifes que se lixem!

Segundo a freira, a produção diária costuma ser de 80 mil hóstias diariamente mas, sem farinha, o parabólico corpo de deus não pode ser fabricado.

Culpa dos portugueses, pois claro!

A maioria das padarias na Venezuela são propriedade de portugueses e os malandros parece que andam a desviar a farinha para o fabrico de croissants e bolos, em vez de a cederem para as sagradas hóstias!

Com croissants e bolos se enganam os tolos!

Diz a notícia que, em algumas paróquias, as hóstias têm que ser racionadas, divididas em quartos, o que quer dizer que cada católico só tem direito a receber um quarto do corpo do Senhor, o que cria alguns embaraços, como se pode imaginar…

Agora que se aproxima a visita do Papa a Portugal, seria uma boa altura de os católicos portugueses se solidarizarem com os seus congéneres venezuelanos. Bastava que cada peregrino que vai a Fátima ver o Papa, cedesse a sua hóstia a um venezuelano.

Na Venezuela, está em curso uma campanha “doe a farinha, por amor de Deus”.

Em Portugal – e mostrando a importância de termos mais dois candidatos a santos – poderíamos iniciar a campanha “não engula a sua hóstia – envie-a para Caracas, caraças!”

Aqui fica a sugestão.

Milagres e manias

Pescando no FB descobri um texto publicado na Agência Eclésia e intitulado “Português vai acompanhar canonização de Madre Teresa para agradecer à santa que o salvou”.

Como me interesso por tudo o que seja milagre, desde o milagre das rosas até ao milagre económico do Passos Coelho, fui ler.

O tal português, chamado Pedro Castro, conheceu um padre chamado Brian e foi ele que lhe falou na madre Teresa.

Diz Pedro: “Eu conheci-o por acaso no Algarve numa altura em que estava doente, com uma doença gravíssima, com uma hepatite C, que estava num estágio já avançadíssimo de deterioração do fígado. E os médicos tinham-me dito que eu precisava absolutamente de tomar um medicamento muito caro, que tinha acabado de sair”.

Não ligando ao facto de a hepatite C do Pedro estar em estágio, toda a gente se lembra do caso deste medicamento inovador, que salvou a vida a milhares de doentes com hepatite C. Antes do acordo entre o ministério da Saúde de Paulo Macedo e o laboratório produtor, o tratamento custava largos milhares de euros.

“A única hipótese era vender a minha casa”, frisa Pedro Castro, cuja história ganhou um novo rumo após o encontro com o padre Brian. – continua o texto publicado na Eclésia.

E foi então que a madre Teresa interveio.

Como?

Ora leiam:

“O sacerdote incentivou-o a esperar e a ter confiança na Madre Teresa, entrou em contacto com Calcutá e a sua intenção foi colocada junto da campa da religiosa, onde todos os dias é celebrada Missa por essas intenções.

A seguir, o que aconteceu foi um conjunto de acontecimentos enormes que levou a que Portugal fosse o país do mundo que mais depressa passou a custear esse tratamento para a Hepatite C”, conta Pedro Castro, que desde então passou a olhar para a vida com uma perspetiva diferente.

O católico português diz não ter dúvidas de que houve “uma intervenção da Madre Teresa” para ajudar a resolver a situação.

Portanto, bastou colocar a intenção junto à campa da madre Teresa e o nosso ministro da Saúde chegou a acordo com o laboratório!

Não percebo por que carga de água o nosso primeiro-ministro não pede a este padre Brian para colocar, junto da campa da madre Teresa, a intenção de nos livrarmos do défice, subirmos os salários, acabarmos com o desemprego e desenvolvermos a economia.

Se calhar, a madre Teresa era capaz de não dar uma ajuda porque António Costa não é crente – mas podíamos pedir à Sãozinha Cristas, que ela sim, é uma católica devota!

Só não percebo por que razão temos que colocar a intenção junto à campa. Pensava eu que o corpo pouco importa – o que interessa é a alma; e essa deve estar bem elevada, lá no Céu, e não enterrada sob sete palmos de terra.

Pelos visto, não percebo nada de milagres e de santos.

Do milagre, passemos agora à mania…

E de manias percebe Afonso de Albuquerque, psiquiatra, 81 anos, um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Sexologia.

Em entrevista ao Público, conta vários episódios da sua clínica, todos relacionados com obsessões sexuais.

Este, por exemplo:

“uma freira, há uns trinta anos, veio ter comigo, e foi preciso muita coragem para o fazer, disse-me que se masturbava 30 vezes por dia, o que a fazia sofrer brutalmente, porque não podia compatibilizar aquilo com a sua vida religiosa. Mas não era capaz de parar.”

Trinta vezes por dia?!

A irmãzinha não devia fazer mais nada, caramba!

É o que dá a solidão dos conventos!

E o psiquiatra continua:

“Tinha também uma depressão. E tratei a depressão, que foi talvez a parte mais simples, mas nesse processo de saída da depressão ela deixou de se culpabilizar tanto, e deixou de se masturbar tanto”.

E Afonso de Albuquerque deixa-nos em suspenso: a freira deixou de se masturbar tanto… o que quer isso dizer? Das 30 vezes por dia passou para 25… 20… 10 vezes?

E afinal, o que pretendo eu com estes dois exemplos, além de gostar de uma blasfémia de vez em quando?

No fundo, o que eu pretendo é provar que, nestas coisas da religião, há sempre muito exagero.

Nem a madre Teresa de Calcutá foi responsável pela aprovação da comparticipação do medicamento contra a hepatite C, nem a freira do Albuquerque se masturbava 30 vezes…

Volta, Saddam Hussein – estás perdoado!

O Governo iraquiano aprovou uma proposta de lei que merece a nossa atenção.

Essa lei passa a permitir casamento com raparigas a partir dos 9 anos e relações sexuais sem consentimento mútuo!

Convém esclarecer que essa lei só se aplica aos xiitas (que alívio!). Chama-se Lei do Estatuto Pessoal e é baseada na jurisprudência da escola religiosa de Jaafari, fundada pelo sexto imã xiita Jaafar al-Sadiq.

Sadiq, sem dúvida!

A Lei foi apresentada pelo ministro da Justiça iraquiano Hassam al-Shimmari, membro do partido xiita radical Fadhila, que quer dizer virtude.

Virtude?!

A mesma lei, além de aprovar também a poligamia, estabelece o modo como homem deve tratar as suas mulheres, no que respeita a quecas.

Assim, se a esposa for jovem e nunca tiver sido casada antes, pode dormir com o marido sete noites seguidas. No entanto, se a esposa já não for assim tão jovem ou já tiver sido casada, só tem direito a três noites seguidas com o marido.

No que respeita ao divórcio, continua a ser aceite, mas será difícil para as mulheres.

Estas só poderão divorciar-se se o marido for impotente ou se o seu pénis tiver sido amputado.

De que é que elas estão à espera?

Aquilo corta-se mais facilmente do que se pensa!

Quanto aos homens, poderão divorciar-se das mulheres por inúmeras razões e uma delas está relacionada com o aparecimento de erupções cutâneas na esposa.

Quer dizer: se um xiita se pode casar com uma miúda de 9 anos, arrisca-se a ter que se divorciar quando a miúda apanhar varicela!

Que saudades do Saddam Hussein, não?