“A Mulher de Cabelo Ruivo”, de Orhan Pamuk (2016)

Dez anos depois de receber o Prémio Nobel, Pamuk publicou este livro que gira todo em torno do mito de Édipo e da lenda de Shahnameh. Enquanto naquele é o filho que mata o pai, nesta lenda oriental, é o pai que mata o filho.

O livro está dividido em três partes; nas duas primeiras, o narrador é Cem, que, em jovem, antes de entrar para a Faculdade, esteve a ajudar um mestre a escavar um poço, em busca de água. Durante esse mês em que esteve a ajudar nas escavações, Cem conheceu uma mulher de cabelo ruivo, dez anos mais velha, com a qual acabou por se envolver sexualmente. Ela era actriz e representava uma cena do Shahnameh que fazia a assistência chorar.

Entretanto, a escavação acabou mal: quando o mestre escavava no fundo do poço, Cem deixou cair o balde em cima dele, pensou tê-lo matado e abandonou o local, sem o socorrer.

Mais tarde, Cem tornou-se um grande empresário da construção civil. Casado e sem filhos, passou os seus tempos livres a viajar pelo mundo com a mulher, procurando livros, pinturas, esculturas, que tivessem a ver com o mito de Édipo. No auge do seu sucesso como empresário, decidiu comprar os terrenos onde estava o poço que ajudou a escavar e acabaria por descobrir que, afinal, tinha um filho.

Como diz o Evening Standart na contracapa: “uma intensa parábola política que nos diz muito sobre a Turquia actual”.

Sinceramente, não me entusiasmou muito…

Outro livro de Pamuk: O Museu da Inocência (2008)

“O Museu da Inocência”, de Orhan Pamuk (2008)

pamukArranjei finalmente vontade para ler este romance de Orham Pamuk (Istambul, 1952). Como já disse, desconfio sempre dos best sellers e receava que este fosse mais um desses livros que vendem milhares e que pouco interesse têm.

O Museu da Inocência foi o primeiro romance que Pamuk escreveu depois de ter ganho o Nobel, em 2006.

E esmerou-se.

Tenho alguma dificuldade em qualificar o livro mas apetece-me dizer que parece um romance “à moda antiga”, uma história escrita por alguém muito antigo, uma história “que já não se usa” …

museu da inocenciaO livro conta a história de Kemal, um jovem novo-rico de 30 anos que, apesar de estar noivo de outra abastada jovem, se apaixona por uma prima afastada, Fusun, de 18 anos, empregada numa loja de roupa. Amor impossível.

A história, que parece saída da Mil e Uma Noites, começa nos anos 70 e prolonga-se por cerca de 30 anos e, à medida que se desenrola, vamos tomando contacto com a evolução de Istambul, pelo menos ao nível das classes mais endinheiradas que queriam, a toda a força, ser e, sobretudo, parecer, ocidentalizadas.

Como se diz na página 275: «Na Europa, os ricos são suficientemente refinados para agir como se não fossem ricos. É assim que as pessoas civilizadas se comportam. Se queres saber a minha opinião, ser culto e civilizado não tem nada a ver com sermos todos livres e iguais; tem a ver com sermos todos suficientemente refinados para agir como se assim fosse.»

Kemal vai para a cama com Fusun, o que é muito “ocidental”, mas nunca chegam a casar.

Nos anos seguintes, a obsessão de Kemal por Fusun vai crescendo e começa a coleccionar objectos relacionados com ela: brincos, postais ilustrados das ruas que percorreram juntos, bilhetes e cartazes de cinema, beatas que ela fumou, etc, até nascer a ideia de fazer um Museu todo dedicado a ela.

E Pamuk foi mais longe, criando mesmo um Museu da Inocência, num dos bairros de Istambul (http://en.wikipedia.org/wiki/The_Museum_of_Innocence_%28museum%29).

Passei apenas dois dias em Istambul, mas a leitura deste livro fez-me lembrar constantemente aquela cidade, não sei explicar porquê.

Talvez porque Pamuk conseguiu impregnar a sua história com a essência da cidade onde nasceu.

Vale a pena ler.