“The Life of David Gale”, de Alan Parker (2003)

Kevin Spacey é um actor de poucos espalhafatos e gosto dele por isso. Já fez algumas patetices mas também já fez filmes notáveis (“American Beauty”, por exemplo). Neste filme, encarna David Gale, um professor universitário do Texas, que é militante contra a pena de morte. Numa festa, onde bebe demais, é tramado por uma aluna sedutora que, depois de se enrolar com ele, na casa de banho, com mútuo consentimento, o acusa de violação.

A partir desse episódio, a vida do professor dá uma volta, torna-se alcoólico e acaba por ser acusado da violação e morte da líder do movimento anti-pena de morte (Laura Linney).

A três dias da sua execução pede para ser entrevistado por uma jornalista (Kate Winslet), a quem vai contar a sua história (quase) toda.

E ficamos a saber como David Gale levou a sua militância anti-pena de morte ao extremo.

O filme é escorreito, Alan Parker é um realizador experiente e com muitos êxitos na carreira, Winslet não sabe ser má actriz e só o título em português destoa (“Inocente ou Culpado?”… patetice…)

O canal de Pinto Monteiro

O Procurador Geral da república, Pinto Monteiro, meteu baixa médica.

Não, não foi uma subida tensional provocada pelos sindicato dos juízes ou dos magistrados, ou lá o que é. Também não foi azia, própria de todas as rainhas de Inglaterra, obrigadas a engolir sapos vivos porque não têm verdadeiros poderes.

Não foi nada disso.

Segundo o Diário de Notícias de ontem, numa notícia assinada por Carlos Rodrigues Lima, Pinto Monteiro «decidiu meter baixa para tratar de um problema relacionado com o seu coração. Pinto Monteiro não será operado, mas apenas alvo de uma intervenção para desobstruir um canal que faz a ligação ao coração.»

Um canal que faz a ligação ao coração?!

O Pinto Monteiro tem um canal que faz a ligação ao coração?!

Ena pá!

Deve ser por isso que o homem é Procurador Geral da República!

Eu cá não tenho nenhum canal que faça a ligação ao meu coração, caramba!

Ora “ligação” refere-se ao acto de ligar duas ou mais coisas entre si. O canal de Pinto Monteiro fará a ligação do coração a quê? Ao pâncreas? Ao intestino? À boca – nesse caso, o PGR teria o coração ao pé da boca (ah! ah! ah!).

Não sendo o Canal da Mancha nem o saudoso canal 18, pergunto-me que canal será esse?

Não fui um grande aluno em Anatomia, mas passei à primeira, com 11 valores e juro que não me lembro de nenhum canal que faça a ligação ao coração…

Mas o que é certo é que, segundo o DN, o tal canal estará entupido, talvez com pastas do processo Face Oculta, e há que desentupi-lo.

Depois da tal intervenção que, ainda segundo DN, não será cirúrgica (deve ser por telepatia…), sempre quero ver se o Pinto Monteiro vem com cara de quem tem o canal desentupido!

Silly judge season

É tradicional: o mês de Agosto é o mês de notícias ainda mais patetas.

Há pouco material noticioso, a não ser os incêndios, a violência doméstica (24 mulheres assassinadas desde Janeiro pelos respectivos companheiros), a catástrofe dos incêndios na Rússia, as inundações na Polónia, na Alemanha e no Paquistão, o regresso de Fidel Castro, após quatro anos de retiro, a possível tensão bélica entre a Venezuela e a Colômbia, a divulgação na comunicação social de milhares de documentos secretos do exército norte-americano – mas, enfim, sem ser isto, que não interessa nada, pouco há para noticiar.

É, portanto, nestas alturas, que os jornais e as televisões se viram mais para os fait-divers, para a pequenina notícia idiota que, em outras alturas, passaria despercebida.

Chama-se a isto a silly season.

Mas esta silly season tem um atractivo: os juízes.

Não se entendem.

Por causa do Freeport, zangaram-se a sério. De um lado, Pinto Monteiro e Cândida Almeida; do outro, o sindicatos dos juízes.

Os procuradores encarregados do Freeport arquivam o processo, publicando um despacho em que dizem que não tiveram tempo, em 6 anos, para questionar o 1º ministro; Pinto Monteiro diz que manda tanto como a rainha de Inglaterra; ontem o Expresso dizia que Cândida Almeida negociou a não inquirição a Sócrates, em troca da publicação das perguntas que lhe deveriam ter sido feitas; o DN diz hoje que, segundo os ingleses, os procuradores portugueses não percebiam nada do processo e estavam mas era preocupados em afirmar a sua independência…

Silly judges!…

PS – este post deve ser lido tendo, como música de fundo, aquela célebre estrofe: “se tu visse o que eu vi/ à porta do tribunal/ as cuecas do juiz/ embrulhadas num jornal”

Os poderes de Pinto Monteiro I

Pinto Monteiro I (leia-se “Primeiro”) diz que tem os mesmos poderes que Elizabeth II (leia-se “Segunda”).

Não está satisfeito e compreende-se.

Eu também não estaria.

Ser considerado o chefe dos procuradores e ser gozado por todos eles, estar no topo da pirâmide e ter um Sindicato a roer-me os calcanhares!…

Não sei porquê – preconceito, se calhar – sindicato cheira-me a suor, sovacos molhados, pêlos no peito, punhos no ar, dentes amarelos, bocas vociferantes expelindo perdigotos.

Caricaturas, eu sei…

Porque este sindicato dos procuradores é fato e gravata de seda, relógios automáticos, cabelo bem penteado, cuecas Armani (borradas na mesma, mas isso é outra questão, parecida com a história da lágrima do António Gedeão…).

E então, Pinto M onteiro I (leia-se “Primeiro”) quer outros poderes.

Por exemplo: a audição do Super-Homem, para poder fazer escutas sem precisar dos tipos da Judiciária.

Por exemplo: visão RX, para ver através das paredes e antecipar as tramas que lhe estão a tramar.

Por exemplo: poder voar.

Voar daqui para fora!

Desculpa esfarrapada

Depois de ir pôr os miúdos ao colégio, tive que ir fazer umas compras ao supermercado, depois deixei uma ropinha no sabão e dei um jeitinho à casa, incluindo um lambuzadela à casa de banho que os miúdos deixam sempre aquilo num alvoroço depois de tomarem banho, a seguir sentei-me a fazer o IRS, dei uma volta pela net, para ver as mensagens no Facebook e fui ao cabeleireiro, tive que arrumar a garagem, que está cheia daqueles caixotes que o Luis lá deixou antes de ir de férias, levei o carro à revisão e aproveitei para ver preços dos novos modelos, no Outono estou a pensar trocar de carro, passei pela agência para confirmar a minha viagem de férias, fui comprar peúgas e uns boxers para substituir os que já estão esgarçados nas virilhas, bebi uma bica e comi um palmier, dei uma vista de olhos pelo jornal e, no meio disto tudo, não arranjei tempo para fazer 27 perguntas ao Sócrates!

E agora dizem-me que acabou o prazo e já não as posso fazer?!

Onde pára a justiça?!

Nota: os procuradores encarregados do caso Freeport dizem, ao fim de 6 anos de investigação, que não tiveram tempo para interrogar o desgraçado do Sócrates!…

Touche pas aux messieurs juges

Podes descer a avenida da Liberdade gritando “Sócrates mentiroso”!

Podes dizer, escrever e publicar que Cavaco é como o eucalipto – seca tudo à sua volta.

Podes dizer que Alberto João Jardim é um bronco, que os deputados são uns calões, que os ministros são incompetentes.

Mas cuidado com o que dizes dos juízes!

Eles fazem parte do único órgão de soberania que não é eleito, mas não podem ser criticados, pressionados, postos em causa.

Ontem , o inefável presidente da Associação Sindical dos juízes, António Martins, disse coisas engraçadíssimas, na Sic.

Disse, por exemplo, que não estava de acordo que um advogado pudesse defender um arguido do caso Face Oculta e, ao mesmo tempo, fazer parte do Conselho de Magistratura, que avalia os juízes.

O entrevistador chamou-lhe a atenção para o facto de estar a pôr em causa a honorabilidade do referido advogado, ao que ele respondeu que não era bem isso mas que poderia haver conflitos de interesses e tal e coisa. Em resumo: a ocasião faz o ladrão – ao fazer parte do Conselho de Magistratura, o advogado poderia sentir-se tentado a avaliar por baixo um juiz que o tivesse lixado num processo qualquer.

A associação sindical dos juízes pediu, ainda, a demissão do ministro Vieira da Silva por achar inaceitável que ele tenha dito que havia espionagem política no caso Face Oculta.

Por outras palavras: um gajo que eu mal sei quem é, que não foi sufragado pelos eleitores, pede a demissão de um ministro de um Governo que acabou de ganhar as eleições, com 38% dos votos.

Vão dar banho ao cão!

(“Touche Pas à La Femme Blanche” é um filme de Marco Ferreri, realizado em 1974, com Michel Piccoli, Catherine Deneuve e Marcello Mastroianni – um filme surrealista, como esta Associação Sindical)

Pintar a cara de Preto

O Expresso de ontem publica uma notícia que pode passar despercebida e é pena.

Diz a notícia que Virgilio Sobral  de Souza e Jorge Silvério, co-arguidos, com o deputado do PSD, António Preto, no chamado “caso da mala”, apresentaram uma acção no Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal, a requerer a extinção de uma execução fiscal de 347 mil euros de dívidas de IRC, da sua empresa “Serbro”.

E em que se baseiam os chicos-espertos para exigirem que lhes perdoem o facto de não terem pago 347 mil euros de impostos?

Baseiam-se no facto da morada da notificação estar errada. Em vez de figurar “Rua do Castanheiro nºs 1 a 3, 8 – Funchal”, que é a verdadeira morada da tal empresa, da notificação constava “Rua do Castanheiro, nºs 1 a 38”.

Diz o advogado dos dois chicos-espertos, Rui Teixeira: “O sr. carteiro pode ter tentado a entrega do nº4 ao 38”.

Portanto, os dois construtores civis e mais o seu advogado preparam-se para fugir à Justiça por causa de uma vírgula.

Grandes serbros que eles têm!…

A desfaçatez com que esta malta trata a Justiça merecia, da nossa parte, dos que pagam todos os impostos, uma reacção um pouco mais violenta.

Alcatrão e penas, no mínimo!

O bode respiratório

nunocardosoPara quem já não se lembra: Nuno Cardoso é aquele senhor longilíneo, com um problema qualquer na respiração, que foi presidente da Câmara do Porto, entre 1999 e 2001.

Em 2001, Cardoso assinou um despacho em que perdoou uma coima ao Boavista, aplicada pela Polícia Municipal do Porto, por o clube ter efectuado obras, sem licença, nas imediações do estádio do Bessa.

Esta história acabou por ser divulgada, no âmbito do Apito Dourado.

Por ter perdoado essa dívida, Nuno Cardoso foi agora condenado a 3 anos de prisão, com pena suspensa.

Não deixa de ser irónico que Cardoso seja o primeiro e, até agora, único, autarca e/ou figura pública a ser condenado no âmbito do Apito Dourado.

Com aquela deficiência respiratória que lhe é característica, Cardoso explicou aos jornalistas que não sabe como é que a sua assinatura foi parar àquele despacho e acrescentou estar mais preocupado com a justiça divina do que com a justiça dos homens.

Assim sendo, e depois de se ter remetido ao silêncio nos últimos 8 anos, agora que foi condenado a 3 anos de prisão, Cardoso promete regressar à política!

E eu acho muito bem!

Por que carga de água é que Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras, Isaltino Morais e outros eminentes autarcas preparam as respectivas re-eleições, apesar de estarem acusados de dezenas de crimes, e Nuno Cardoso, por causa de uma merda de um despacho que lhe vale 3 anos de prisão, não há-de regressar à política?!

Por que raio é que ele, como diria Jorge Jesus, há-de ser o bode respiratório do processo Apito Dourado?

Força, Nuno!

Autarcas condenados (ou suspeitos) unidos, jamais serão vencidos!