Que puta de continência!

O Público de hoje traz uma notícia cujo título me deixou perplexo.

Reza assim:

“Militares da GNR filmam continência de prostituta”

Segundo a pequena local, dois militares da GNR, a bordo de um veículo daquela garbosa força paramilitar, aproximam-se de uma prostituta e, através do megafone, ordenam à senhora: “Continência!”

A visada obedece, fazendo a continência.

Depois, um dos militares pergunta: “como está a correr o trabalho?”

Finalmente, o outro militar diz à trabalhadora para desfazer a continência, afirmando: “Pode estar à vontade! À vontade, mas não à vontadinha”.

E, segundo a notícia, “abandonam o local às gargalhadas”.

Tudo isto foi filmado pelos militares e colocado nas redes sociais.

Diz o comando-geral da GNR que este tipo de atitudes é reprovável e que os dois militares vão ser alvo de processos disciplinares.

Mas porquê, pergunto eu!

A GNR é conhecida como uma força da ordem que actua perto das populações e, ao perguntar à senhora como estava a correr o trabalho, o dedicado GNR só queria inteirar-se se tudo estava bem, as condições de trabalho, o horário, a afluência, o salário – numa palavra, esta atitude só demonstra dedicação. Não nos esqueçamos que a divisa da GNR é “pela Lei e pela Grei”!

Quanto ao facto de os dois militares abandonarem o local às gargalhadas, também não vejo qual é o mal. Alegria no trabalho, é o que é!…

Finalmente, pedir à senhora para fazer continência, até é de louvar. Sabendo que continência e abstinência são sinónimos, e conhecendo a profissão da trabalhadora, só podemos dizer que estes dois valentes militares da GNR estavam a tentar que a senhora mudasse de vida…

Ban Ki-moon ou Baltazar?

Afinal, a GNR já não vai para a República Centro Africana.

O ministro da Administração Interna, Miguel Macedo chegou a dizer que todos aquelas manobras nos armazéns abandonados da Trafaria eram coisas banais no treino da GNR, mas acabou por admitir que o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon pediu a Passos Coelho que Portugal enviasse uma unidade da GNR para aquele país africano.

Miguel Macedo acrescentou que, depois de muito ponderar, o Governo tinha decidido que enviaria uma equipa da Força Aérea, em vez da GNR, porque havia pouco tempo para organizar as coisas.

Pouco tempo?

Então não era só enfiar meia-dúzia de carregadores na mochila, meter a metralhadora às costas e zarpar?

Estranho…

Mas hoje, tudo ficou esclarecido com este título do DN:

« Noventa militares, vinte cavalos e dez cães procuram assassino fugitivo»

Aí está para que serviram os treinos na Trafaria: a GNR faz um manguito a Ban Ki-moon porque tem que dar caça ao Baltazar, o “monstro de S. João da Pesqueira”.

Qual Boeing desaparecido na imensidão do Pacífico, Baltazar matou duas mulheres, feriu outras duas e pisgou-se, embrenhando-se nos olivais e vinhedos e nunca mais ninguém o viu, já lá vai mais de uma semana!

Claro que a GNR não podia dispensar homens para a República Centro Africana quando te, em pleno território nacional, um perigoso assassino à solta, assassino que até se dá ao luxo de comprar pão nas barbas da polícia, sem que ninguém o apanhe, nem o padeiro!

Mas fico na dúvida: noventa militares, vinte cavalos e dez cães serão suficientes?

Bangui é já aqui

O Diário de Notícias informa que a GNR está a treinar alguns dos seus elementos para serem enviados para Bangui, a capital da República Centro-Africana, ao abrigo da European Gendarmerie Force.

Esta organização policial europeia vai tentar pôr alguma ordem naquela cidade africana, que é um verdadeiro cenário de guerra urbana.

A força da GNR será constituída por 27 elementos, que se estão a treinar em armazéns e edifícios abandonados da Trafaria.

Eu nunca fui a Bangui, mas já fui à Trafaria.

Tenho pena dos soldados da GNR…

A soneca do cabo da GNR de Valpaços

O Diário de Notícias é insubstituível.

O que seria de mim sem estas deliciosas notícias, enviadas pelos correspondentes.

Desta vez, a notícia vem de Valpaços e é da responsabilidade de José António Cardoso e Paula Carmo.

E foram necessários dois jornalistas porque a história é complexa.

Vamos a factos:

«Carlos Nogueira, 43 anos, militar da GNR, agora a prestar serviço em Mirandela, foi condenado a dois meses de prisão, pena substituída por 60 dias de multa à taxa diária de sete euros por, segundo o tribunal, ter abandonado o seu comandante de patrulha quando exercia funções na cidade Valpaços».

Dois meses de prisão por abandonar o comandante em plena patrulha? Não será pouco?

Avancemos na redacção:

«O militar agora condenado confirmou em tribunal que foi indigitado para o patrulhamento da cidade transmontana entre  a uma e as nove da manhã, e que saiu juntamente com o comandante de patrulha, o qual, logo no início, lhe ordenou que conduzisse a viatura em que se deslocavam.»

Tudo normal: o comandante mandou que o outro fosse a conduzir. Por isso mesmo era o comandante! Avancemos:

«Cerca das quatro horas (…) o cabo terá indicado a central de camionagem como destino. Lá chegados, teria mandado encostar o jipe entre dois autocarros e de imediato “rebaixou as costas do banco, informando-me que queria dormir.»

Claro que esta é a versão do militar. Como sabemos, um comandante não dorme, descansa os olhos…

Perplexo, Carlos Nogueira prossegue a sua narrativa: “Ainda perguntei e a patrulha? Vai tu se quiseres, eu vou dormir, pois amanhã tenho que fazer uns biscates de construção civil, a GNR para mim é um part-time”.

Carlos Nogueira ficou sem palavras e, assim que o comandante começou a roncar, nos braços de Morfeu, foi-se embora e participou os factos.

Ah! grande comandante! Queres patrulhar Valpaços? Vai tu, que eu tenho que bater uma sorna porque amanhã vou fazer cimento! Isto de ser GNR é só para garantir a reforma! A minha vida não é isto!

Naturalmente, o pobre do Carlos Nogueira foi condenado a dois meses de prisão.

Quanto ao comandante, quem sabe, terá sido promovido?

O polvo? Nem unido!…

Notícia do DN de hoje:

«Os militares da Unidade de Controlo Costeiro da GNR apreenderam na passada sexta-feira, “nas imediações” da lota de Póvoa do Varzim, 369 quilos de polvo fresco por declarar».

É o que acontece ao polvo fresco quando não se declara…

Bastava que declarasse: “Nós somos polvo fresco” e os militares da GNR deixavam passar a coisa.

E a notícia continua:

«esta apreensão verificou-se no decurso de uma acção de fiscalização realizada naquele dia por militares do subdestacamento de Controlo Costeiro de Esposende, e que apreenderam o polvo fresco “por fuga à lota”».

Estou a imaginar 369 de quilos de polvo fresco a fugir à lota… todos aqueles tentáculos em movimento e os garbosos militares de Esposende em perseguição do malandro do polvo e ele a fugir-lhes por entre os dedos porque, como se sabe, o polvo é muito escorregadio…

Mas os militares levaram a melhor e explicaram que – voltemos à notícia – «todo o pescado fresco deve obrigatoriamente ser entregue ou leiloado na lota». E quem não o fizer incorre numa “coima de 44 891 euros e a perda do pescado apreendido».

Gosto do preciosismo da coima: 44 891 euros. Não podiam arredondar para 44 900, por exemplo?

De qualquer modo, o polvo acabou preso.

É sempre o polvo quem se lixa!

10 Reflexões sobre uma perseguição da GNR

Título do DN de hoje:

«Dois carros da GNR não travaram
perseguição que acabou com fuga a pé»

Este título permite as seguintes 10 reflexões:

1ª – “Dois carros da GNR não travaram perseguição” já era suficiente como notícia

2ª – “Dois carros da GNR não travaram” era uma notícia ainda melhor

3ª – Foi porque dois carros da GNR não travaram uma perseguição que a dita acabou com uma fuga a pé?

4ª – Afinal, aquilo era uma perseguição ou uma fuga?

5ª – Partindo do princípio que os bandidos procediam a uma fuga e os dois carros da GNR empreendiam uma perseguição, quem acabou a pé?

6ª – Será que os bandidos estavam a fugir da GNR de carro ou a pé?

7ª – Se os bandidos fugiam a pé e a GNR de carro, como é possível que não os tenham apanhado?

8ª – Há algum problema numa fuga a pé?

9ª – Não é bom que os GNR façam algum exercício físico, perseguindo os bandidos a pé?

10ª – Queremos ladrões elegantes e GNR obesos?

O estranho caso do cofre da GNR

A notícia saiu hoje, no Diário de Notícias, mais ou menos escondida, na página 22, por baixo de “Bombeiros ameaçam deixar de combater fogos” e ao lado de “Discussão entre surdos-mudos acaba à facada”.

O título é: “Desapareceu cofre da GNR”.

E um tipo interroga-se: mas que raio se passa neste país? Surdos-mudos acabam uma discussão à facada, os bombeiros ameaçam deixar de apagar os fogos e a GNR é roubada?

Parece que sim…

Foi na GNR de Quarteira.

Diz a notícia: «o desaparecimento do cofre foi detetado logo às primeiras horas da manhã de ontem, na altura em que num militar ia efetuar o depósito no banco. A pequena caixa de segurança encontrava-se arrumada no interior de um armário, numa zona de acesso restrito a militares».

Segundo a notícia, o comando da GNR desconfia de um dos guardas. Genial!

No entanto, diz o tenente-coronel Luis Sequeira, “se as investigações nos derem indícios de furto praticado por alguém externo, vamos participar ao Ministério Público e damos início a um outro tipo de investigação.”

Quer dizer: a GNR de Quarteira admite a possibilidade de alguém ter entrado, sorrateiramente, nas suas instalações e ter furtado o cofre.

Ora, se a própria GNR admite poder ser assaltada, estamos feitos!

Ditosa Pátria que tão valorosos soldados tem como guardiões!

O presidente actor

Cavaco Silva recebeu ontem as credenciais de seis embaixadores.

Seguindo as regras do protocolo, recebeu-os de fraque e com um esquadrão de cavalaria da Unidade de Segurança e Honras de Estado, composta por 60 militares e respectivos cavalos, e ainda a charanga da GNR.

A Associação de Profissionais da GNR considerou esta pompa “totalmente desmesurada”.

De facto, em tempo de crise, arregimentar 60 militares, 60 cavalos e mais a banda, tudo para receber seis embaixadores, convenhamos que é exagerado.

Quanto terá custado a coisa?

Questionado, o porta-voz da Presidência esclareceu que “o Sr. Presidente da República é apenas um actor na cerimónia. É o protocolo que define as regras.”

Não se importa de repetir?

Agora, Cavaco também é actor?

O nosso Presidente tem o dom de não ter a culpa de nada, nem do défice, nem da destruição da agricultura e das pescas, nem das auto-estradas, nem das reformas estruturais que, afinal, não fez – e, neste caso, coitado, a culpa é do protocolo, pois ele não passa de um actor!…

Um actor com um papel de merda…

Coisas que acontecem

* O Hospital Miguel Bombarda fechou ontem as suas portas. Os últimos cinco doentes ali asilados, foram realojados na Moody’s

* Depois dos casos dos agentes da PSP de Vila do Conde, de Aveiro e da Pontinha, ficou claro que há uma nova exigência para se poder ser integrado na Polícia: não ter carta de condução

* A empresa que fazia a limpeza dos quartéis da GNR não viu o seu contrato renovado. Por isso, têm sido os soldados da GNR a fazer a limpeza. E estão revoltados. Não sei porquê. É a filosofia do utilizador-pagador. Sujam? Toca a limpar!