Eu gosto muito da minha escola

As escolas privadas que recebem subsídios do Estado decidiram pedir aos seus alunos que elaborassem uma redacção subordinada ao título em epígrafe, afim de atirarem com ela à cabeça dura do António Costa, que está a tentar empurrar as criancinhas para a escola pública, expondo-as ao buling, às drogas, ao sexo e aos esquerdistas.

De todas as redacções que os meninos fizeram, escolheram esta, da autoria da Constança, 12 anos.

“Eu gosto muito da minha escola.

Foi lá que aprendi a ler, a escrever e a rezar.
Os professores são todos muito bonzinhos, têm muita paciência para nós mas o pai disse-me que vão todos para a rua porque aquele primeiro-ministro monhé quer fechar a nossa escola. Também não percebo como deixaram um homem tão escuro chegar a primeiro-ministro. A mamã diz que a culpa é toda dos comunistas, que são aqueles que antigamente nos comiam a nós, criancinhas. que horror! Nem quero acreditar que existissem pessoas capazes de nos comer, embora eu, no outro dia, quando levei uma saia muito curta para a escola, ouvi o professor de geografia dizer que me comia toda… se calhar é comunista e é muito bem feita que seja despedido, mas os outros não, coitadinhos. O pai também diz que a culpa não é só do António Costa, mas também do tal comunista Jerónimo e da Catarina Martins, que é a chefe de um partido chamado Bloco de Esquerda, que é um nome muito estranho porque se é bloco não devia ser partido. Se o António, o Jerónimo e a Catarina conseguirem fechar a minha escola, o que vai ser das aulas de equitação, do ioga, da flauta e da culinária? A mamã já disse que não vai ter dinheiro para pagar esses luxos porque ou é isso ou o cruzeiro às Bahamas e a manutenção do jipe. Mas também diz que o Dr. Pedro Passos Coelho nos vai salvar a todos, derrotar os esquerdistas e conseguir que continuemos a receber o dinheiro do Estado, porque os nossos pais têm o direito de escolher onde querem que os seus filhos aprendam a ler, a escrever e a rezar, como muito bem disse o nosso Patriarca de Lisboa. Que Deus nos ajude!”

Crato contra os gordos!

Um título do DN deixou-me, hoje, perplexo:

“Nuno Crato quer pôr alunos a ir para a escola de bicicleta”

Logo à partida, perguntei: porquê?!

Que mal fizeram os putos ao ministro da Educação para que ele se lembre, agora, de uma tortura destas?

E não é preciso ir para as escolas da Serra da Estrela – basta convidar o ministro a ir, de bicicleta, para a António da Costa ou para a Anselmo de Andrade, aqui em Almada…

Sempre gostava de ver o ministro a pedalar, com o cu levantado, a subir a avenida 25 de Abril, depois a Afonso Henriques e depois a Nuno Álvares, ou a Bento Gonçalves.

Quando chegasse às escolas, teria que chamar o INEM!

Mas esta ideia de fazer os putos irem de bicla para a escola faz parte de um plano mais vasto.

Esse plano tem um nome e uma sigla, como não podia deixar de ser.

Trata-se da Estratégia Nacional para a Promoção da Actividade Física, da Saúde e do Bem-Estar, que é como quem diz, ENPAF – e não estou a gozar…

O documento que serve de base a esta coisa foi elaborado pela Direcção Geral da Saúde e pretende, nomeadamente, diminuir o risco de doenças como a obesidade. Como? «Uma das possíveis soluções será o desenvolvimento de programas educativos visando recreios mais ativos e a eventual preparação de professores para a lecionação em salas de aulas ativas».

Trocando por miúdos: pôr os professores a correr atrás dos alunos e vice-versa! Já estou a ver o Mário Nogueira a preparar manifs contra esta medida porque os professores, coitados, têm artroses, e fibromialgias e enxaquecas e não podem ser muito ativos com os alunos porque se lhes agravam as dores…

Mas o texto que serve de base à ENPAF consegue ser ainda mais inventivo, criando eufemismos inacreditáveis.

Tomem lá este naco: «promoção de deslocações ativas para os locais de ensino em segurança, criando condições para guardar os meios de deslocação».

Por favor, leiam com atenção a frase que acabei de citar…

Por outras palavras: fazer com os sacanas dos putos vão de bicla para a escola e fazer com que a escola tenha um sítio para guardar as biclas!

No texto da DGS, “meios de deslocação” quer dizer “bicicletas”, tal como nas notícias sobre incêndios, “meios aéreos” quer dizer “aviões ou helicópteros” (helicópteros agora, não, porque os Kamov estão todos avariados!)

O DN decidiu contactar o Ministério da Educação sobre esta notícia.

E fez bem, porque quem tem putos em idade escolar deve ter ficado à rasca, a pensar que, agora, além dos livros e dos cadernos e dos lápis e da mochila, também tinha que ir comprar uma bicicleta.

Lá do ministério responderam que apoiam «projetos-piloto, de pequena escala, promovidos por escolas que pretendam reduzir o sedentarismo dos alunos. São exemplos, iniciativas de escolas que visam a utilização de bicicletas para as deslocações casa-escola e a utilização de mobiliário que estimule a atividade e previna más atitudes posturais».

Isto quer dizer, provavelmente. que as escolas, além dos cheque-dentistas, vão começar a distribuir cheques-bicicleta e que, nas salas de aulas, em vez das imóveis e desconfortáveis carteiras, os alunos passarão a ter plintos e bolas de pilates.

Quantos ao tempo passado nos recreios, a ENPAF prevê “pôr as crianças e os jovens a ter mais actividade física, para diminuir o impacto do número de horas que os alunos passam sentados nas salas de aula”, recorrendo, por exemplo, a “jogos tradicionais”.

Já estou a ver os putos, nos recreios, a serem obrigados a jogarem jogos tão estimulantes e divertidos como a barra do lenço, os cinco cantinhos e o mamã dá licença!

Que divertido vai ser!

E depois de aulas dadas por professores elegantes e em forma, em salas de aula transformadas em verdadeiros ginásios, e de recreios activos, com os putos a jogarem chinquilho e à apanhada, passaremos a ter miúdos cada vez mais elegantes a chumbarem a matemática e a português.

Obrigado Crato!

Quando Durão era Durinho

Durão Barroso não pretende ser candidato à presidência da República mas não faz outra coisa se não aparecer nos telejornais por tudo e por nada.

Há uns dias deu uma entrevista à SIC, que ocupou quase um telejornal inteiro. Um frete do Balsemão, claro…

Nessa entrevista, entre muitas vulgaridades, disse, com aquele ar de cherne cheio de ovas, que tinha chamado o Vitor Constância por três vezes para tentar perceber se o que se dizia sobre o BPN era verdade.

E o Constâncio, moita, disse o Durão.

E o Durão, pergunto eu, o que fez?

Nada, também nada!

Ontem, Durão esteve não sei onde a entregar um cheque chorudo da Comissão Europeia, a fim de ser distribuído por obras sociais.

Escusava de se ter dado ao trabalho, caramba!

Mandava cá um comissário qualquer.

Mas Durão quer aparecer; não é que pretenda ser candidato à presidência, não senhor!

E então, na entrega do tal cheque, Durão resolveu recordar os velhos tempos em que era aluno do Camões, ou seja, quando ainda era um puto, um Durinho…

E disse esta coisa espantosa: no tempo do Estado Novo «apesar de algumas liberdades cortadas, havia na escola uma cultura de mérito, exigência, rigor, disciplina e trabalho».

Claro que havia, Durão!

O que não havia era escola para todos, pá!

Os liceus em Lisboa contavam-se pelos dedos de uma mão e na província, nem se fala! A taxa de analfabetismo era brutal e poucos miúdos passavam da quarta classe, a Universidade era só para uma minoria e os programas escolares escamoteavam factos da História que não interessavam ao regime.

O menino Durinho portou-se mal desta vez!

E como gosta de uma cultura de exigência, vou-lhe dar umas valentes reguadas e pô-lo no canto da sala com orelhas de burro!

durao barroso

Coisas…

1. Um livro de poemas para adultos de Alice Vieira foi recomendado a crianças no Plano Nacional de Leitura.

Parece-me correcto.

Em Portugal, o livro mais vendido é “As 50 Sombras Mais Negras” e o segundo mais vendido é “As 50 Sombras de Grey” – dois calhamaços escritos por uma dona de casa que fez uma dieta à base de Pau de Cabinda.

Talvez começando a fornecer poesia às criancinhas, consigamos mudar os hábitos de leitura desta malta!

2. Todas as escolas do 1º ciclo de S. João da Madeira vão passar a ensinar mandarim.

Justificação? Preparar futuros contactos comerciais com o “maior mercado da Humanidade”.

Já estou a imaginar os jovens de S. João da Madeira a abrir lojas de chineses em Xangai…

3. O comissário europeu Oli Rehn insiste na necessidade de manter em Portugal o “espírito construtivo” que tem caracterizado o ambiente político e acrescentou que quer os partidos a “trabalhar em conjunto”.

Mas quantos de nós votaram neste gajo?

4. Portugal foi o segundo país com maior aumento de impostos entre 2009 e 2012, só suplantado pela Argentina.

Ó Gaspar – vamos lá a fazer só mais um esforçozinho!

Ninguém gosta de ficar em segundo lugar quando pode ficar em primeiro!

Magalhães e os Velhos do Restelo

No Macacos sem galho decorre uma acesa discussão a propósito do computador Magalhães e da e-escolinha (http://www.macacos.com/2008/09/23/viva-o-magalhaes/).

Parece que, afinal, a tecnologia de ponta que o Sócrates diz que o Magalhães tem, já não é tão de ponta assim – dizem os críticos. Um dos fulanos que participa na discussão diz esta coisa enigmática:

“O portatil que eu dava aos alunos seria um com 32 megas de ram, disco de 512 megas, grafica de 2 megas, o s.o. seria linux ou bsd. Não precisavam mais do que isto. Queriam fazer processamento de texto, usavam latex, queriam fazer graficos usavam o gnuplot, queriam usar a calculadora ou abriam a shell de alguma liguagem interpretada ou então xcalc. Navegar na net era o lynx (caso precisasem de algo grafico que usem o “links -g””). Querem fazer desenhos? usem papel e lapis (ou então o xfig que é poderosissimo)! Assim tornavam-se homemzinhos!”

Eu e 98% dos miúdos do ensino básico ficamos de boca aberta! Então, os putos podiam ter um sistema operativo linux, ou mesmo bsd, e não têm?! Que é lá isso, ó Sócrates? Está a roubar aos nossos infantes a possibilidade de usarem o “gnuplot”, seja lá isso o que for?! (a propósito: “bsd” quererá dizer “bondage-sado-masok”?)

Primeiro-ministro da treta, é o que tu és!

Sinceramente, a mim, parece-me uma ideia estrangeira, esta, a de fornecer portáteis aos putos do ensino básico e secundário. Quando percebi que isso se estava a passar em Portugal, pensei, por momentos, que tinha mudado de país.

Claro que o Sócrates e todo o Governo se aproveita do Magalhães para fazer auto-propaganda. Eu faria o mesmo. Os gajos do PSD fariam o mesmo (os gajos do PC, BE e CDS não fariam o mesmo porque nunca terão hipótese de chegar ao Poder, caso contrário… fariam o mesmo…).

A ideia é óptima e merece aplausos, o nome do computador é bem esgalhado (Magalhães ou Magajanes é conhecido em todo o mundo) e só gajos com o espírito do Velho do Restelo é que podem estar contra uma coisa destas.