“Ozark”, de Bill Dubuque (2017-2020)

Terminámos hoje o visionamento de Ozark, uma série da Netflix.

São três temporadas, cada uma com 10 episódios de uma hora e picos. Uma quarta e última temporada está quase pronta.

Ozark conta a história de um conselheiro financeiro de Chicago (Marty Byrde), que se muda com a mulher e os dois filhos para Ozark, depois do seu sócio ser assassinado pelo cartel mexicano dirigido por Navarro.

Byrde lava dinheiro para Navarro e acaba por envolver a mulher, Wendy, e os dois filhos, Charlotte e Jonah.

Marty Byrde é interpretado por um excelente Jason Bateman, que raramente se ri ao longo dos 30 episódios, consegue quase sempre manter a calma perante todas as adversidades, mesmo quando está quase a ser morto por vários tipos de diversas proveniências, quase sempre entalado entre o FBI, o cartel e vários mafiosos locais.

Wendy, interpretada por Laura Linney, a pouco e pouco vai entrando no negócio e, às tantas, parece querer rivalizar com o marido em manobras e artimanhas.

Destaque ainda para Ruth (Jluia Garner), uma miúda local que começa a trabalhar para Byrde e que se envolve cada vez mais nos negócios e nas suas desgraças e Marlene (Lisa Emery), uma sessentona local, dona de um vasto terreno onde cultiva papoilas para o fabrico de heroína e que se torna sócia de Byrde, mas sempre com a ameaça de o trair.

Toda a série envolve momentos de grande tensão e violência latente, a fotografia é óptima, sempre sombria e, logo a partir do terceiro episódio, estamos com a impressão de que Marty Byrde vai ser assassinado por alguém.

Não vai – pelo menos, até ao fim da terceira temporada…

Ângelo Canabis Correia

Este Ângelo nunca me enganou!

Nos anos 80 do século passado, quando Ângelo era ministro da Administração Interna do governo de Pinto Balsemão, muito brincámos com ele no Pão Com Manteiga, Programa da Rádio Comercial, todos os domingos, das 10 às 13 (ou das 13 às 10, para quem nos ouvia em sentido contrário…).

Ângelo Correia era um ministro um pouco tosco, que coleccionava saliva nas comissuras labiais e cujas afirmações eram motivo de chacota.

E nós escrevíamos diálogos deste tipo:

A – Ó sócio.

B – Diz lá.

A – O ministro Ângelo Correia…

B – Quem?…

A – O novo ministro da Administração Interna…

B – Não sei quem é…

Mas o que é certo é que Ângelo lá se foi safando e, depois de ministro, foi muitas coisas, tendo feito parte da administração de diversas empresas, nomeadamente, Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas, Lisboagás, Portgás, Phillips Portuguesa, Terti, Cipol, Turtistrela, Figeuira Paraindustria, GDP Distribuição, Alltwoit, Burgo Fundiários, Pavilis, Drink-In, Transinsular, Totta Urbe e Solidal. Presidiu à Associação Nacional das Empresas Operadoras Portuárias e à Associação de Empresas de Segurança Privada. participou na criação do PPD, ao qual aderiu em maio de 1974. Foi deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República (1976-1985), onde presidiu às Comissões Parlamentares de Defesa Nacional, Assuntos Europeus, Poder Local, Regiões e Ambiente e Economia, Finanças e Plano. Foi também presidente da Delegação Parlamentar Portuguesa à Assembleia Parlamentar da NATO.

Mas o ponto alto da sua carreira foi a 9 de Junho de 1994, quando foi feito Comendador da Ordem Militar de Cristo.

Mais recentemente, exerceu os cargos de presidente dos Conselhos de Administração do Grupo Fomenvest e da Lusitaniagás e de vogal do Conselho de Administração da Fundação Ilídio Pinho. É presidente da  Câmara de Comércio e Indústria Árabe Portuguesa e cônsul honorário do Reino Hashemita da Jordânia.

Com este currículo tão rico e diversificado, o que faltava a Ângelo Correia?

Canabis, claro!

Diz o DN:

“O fundador do PSD, ex ministro da Administração Interna, em tempos considerado mentor de Passos Coelho e agora “ministro sombra” de Rio para a defesa confirmou ao DN ter adquirido 40% da Terra Verde, a primeira empresa a obter licença de produção de canábis em Portugal. O empresário reconhece que até há pouco tempo “canábis para mim era dos tipos que fumavam droga.”

Ai Angelito… a quem queres enganar?…

Só tu sabes o que tens nesse cachimbo!…

Vendam a cocaína!

As autoridades conseguiram interceptar um navio, ao largo dos Açores, que levava, a bordo, cocaína equivalente a cerca de 100 milhões de euros.

Se fosse devidamente cortada com bicarbonato, farinha Maizena ou gesso, talvez desse para doses que, vendidas no mercado negro, isento de IVA, valessem quase 200 milhões.

Ficava o problema dos enfermeiros resolvido.

Os enfermeiros continuam a exigir, entre outras coisas, um aumento salarial de 400 euros. Coisa pouca.

Diz a ministra Temido que esse aumento, assim, de repente, para todos os enfermeiros no início da carreira, equivale a cerca de 220 milhões.

Como o governo não cede, os enfermeiros decidem fazer nova greve às cirurgias.

Reivindicações justas, certamente.

Pena que não tenham sido feitas há mais tempo, quando o ministro era o actual Chefe da Caixa Geral de Depósitos…

Mas enfim… os enfermeiros acham que, atirando com milhares de utentes que aguardam cirurgias para as listas de espera, estão a lixar o governo, e que este, temendo perder as eleições, lhes vai dar tudo o que exigem.

Entretanto, como diz o povo, quem se lixa, é o mexilhão…

Será ético manter uma greve destas?

Eu acho que não – mas isso sou eu, que sempre defendi o SNS, ao longo de 40 anos de carreira…

Mas, já agora, que a ética parece ter pouco a ver com as lutas sindicais, por que não vender as toneladas de coca apreendidas e, com o lucro, dar o aumento que os enfermeiros exigem?

Assim como assim…

A GNR é teimosa como o raio!

O Diário de Notícias é perito em título deste género:

«GNR detém todos os dias um produtor de ‘cannabis’»

Irra, que a GNR é teimosa, carago!

Coitado do produtor de cannabis! Deve ser chato ser detido todos os dias!

E também não se apercebe a atitude da GNR; se o detém todos os dias, tem que o libertar também todos os dias. Quer dizer, deve ser mais ou menos assim: vão a casa do produtor de cannabis e detém-no; depois, ao fim do dia, libertam-no. No dia seguinte, tornam a fazer tudo outra vez!

Mas o título tem um subtítulo igualmente estranho:

«Em 2011, foram apreendidos 3916 pés e 89 pessoas foram detidas. Este ano, o número de cultivadores apanhados já vai em 45. Desde há um mês que a GNR desfaz todos os dias uma plantação»

Ora vamos por partes:

1. Foram apreendidos 3916 pés. Não admira, só um pé se deixa apanhar…

2. Este ano já foram detidos 45 cultivadores. Como estamos em Agosto, já passaram mais de 210 dias neste ano. Como é que é possível dizer-se que a GNR prende um todos os dias?

3. Desde há um mês que a GNR desfaz todos os dias uma plantação. A teimosia novamente. Qual é o gozo de desfazer a plantação todos os dias, caramba?

Enfim, fica assim explicado por que razão nunca temos um agente de autoridade quando precisamos dele – estão entretidos a desfazerem uma plantação de cannabis e a deterem o respectivo cultivador.

A McDonald’s faliu!

É verdade, a McDonalds faliu… na Bolívia!

A empresa norte-americana de fast food, que tem oito míseros restaurantes na Bolívia, já anunciou que se vai retirar daquele país porque os bolivianos preferem bifes de lama.

E como a carne de lama deve ser intragável, os bolivianos mastigam umas folhas de coca para disfarçar…

Agora, pensem bem: quem tem à mão folhas de coca, para que raio quer Coca Cola?

Por isso mesmo, Evo Morales, o presidente boliviano, já avisou que, até 21 de Dezembro, tanto a McDonald’s como a Coca Cola terão que abandonar o país. A data escolhida está relacionada com o calendário maia a os festejos contra o capitalismo.

Lê-se e não se acredita.

Se eu fosse aos yankees, deixava de snifar coca boliviana!

 

“Blow”, de Ted Demme

George Jung foi o homem que, na década de 70 do século passado, estabeleceu o mercado de cocaína nos Estados Unidos.

Será que este tipo merece um filme biográfico? Pelos vistos, parece que sim e logo com Johnny Depp a encarnar essa personagem.

Filho de um casal desavindo, de um pai honesto, mas pobre, e de uma mãe dona-de-casa que queria sempre mais do que a vida lhe dava, George Jung iniciou-se no tráfico de droga com a canabis, na Califórnia e, a pouco e pouco, foi subindo no negócio, acabando por lidar pessoalmente com Pedro Escobar, transportando a coca para os States.

O filme arrasta-se um pouco, perdendo-se em pormenores e dando uma imagem de coitadinho a Jung, que acaba aldrabado pelo seu sócio, enganado pela mulher (Penélope Cruz), escorraçado pela mãe e condenado a muitos anos de prisão (parece que sai em 2015). Coitadinho do traficante…

Destaque para as fatiotas de Depp, fatos completos, com colete e tudo, vermelho vivo ou com motivos psicadélicos. Enfim, eram os anos 70-80 e o gajo era traficante de coca…

Cheira-me a que este filme se fez porque muita malta lá de Hollywood foi cliente de Jung…

The Wire – 4ª e 5ª séries

The Wire é uma das melhores séries de televisão de sempre. Parágrafo.

wire4Por razões maiores e por pormenores.

Pormenores:

1. O tema musical da série é a canção de Tom Waits, “Way Down in the Hole“, e só por isso já merecia aplausos. Mas fizeram mais: na primeira série, escutamos o próprio Waits a interpretar o tema e nas restantes 4 séries há outras tantas versões do mesmo.

2. A série não tem um herói, mas uma panóplia de pequenos anti-heróis; no fundo, é Baltimore, a cidade, a heroína da série.

3. Omar, o bandido negro, outsider, o personagem que mais se aproxima de um herói, não só é gay como acaba por ser assassinado por um puto enfezado de 10 ou 11 anos.

wire54. Cada série debruça-se sobre um sector da cidade: os bairros sociais, o porto de Baltimore, as escolas, o jornal Baltimore Sun, a Câmara Municipal.

E as grandes razões:

A série é óptima. O apartheid envergonhado que, de facto, existe nos EUA, a inevitabilidade da corrupção na política, o papel dos advogados como coadjuvantes dos criminosos, a importância de se ser “the king of the streets”, a gente respeitável que não se importa de viver à conta do tráfico, a violência gratuita, os jornalistas oportunistas, o ensino caótico, etc, etc.

David Simon, ex-jornalista do Baltimore Sun foi o criador da série e, juntamente com Ed Burns, ex-polícia, é o responsável pela maior parte da notável escrita da série, que não fica nada a dever aos Sopranos, por exemplo.

Fiquei sem vontade nenhuma de conhecer Baltimore…

The Wire – 2ª e 3ª série

Grande série, esta!

Coloco-a lado a lado com os Sopranos e quase que a ponho, até, um pouco à frente.

O grande trunfo de The Wire, em relação aos Sopranos, por exemplo, tem a ver com o facto de não ter um Tony Soprano, isto é, de não ter uma personagem central, em redor da qual tudo funciona.

wire2The Wire tem dezenas de pequenas personagens, como na vida: McNulty, o polícia de origem irlandesa, muito dado a grandes bebedeiras, com uma vida pessoal “fucked up” e uma obsessão – apanhar Stringer Bell, o negro “drug dealer” que se quer transformar num “business man”, através do “real estate”; Avon Bakersdale, o gangster traficante, que não quer ser outra coisa senão gangster; Omar, o gangster solitário, homossexual assumido, duro, sem misericórdia, mas com um código ético muito próprio; Daniels, o líder do grupo especial que realiza as escutas, cheio de dúvidas acerca da profissão; os diversos membros da equipa, cada um com a sua história pessoal e a sua visão da vida e da profissão.

Enfim, a legião de pequenas personagens, quer do lado das autoridades, quer do lado dos “bandidos”, é tão vasta que se confunde com a realidade.

Por isso mesmo, The Wire me parece uma das séries mais conseguidas, porque mais próximas da vida real.

A 2ª temporada tem o porto de Baltimore como pano de fundo, com o sindicato dos estivadores e as suas ligações com o contrabando, liderado pelos gregos. Mas, como segunda história, continua o tráfico de droga, com Avon detido, mas Stringer Bell a dominar os negócios e a tentar modernizá-los, ligando-se a senadores e a outras pessoas “sérias”.

wire3Na 3ª temporada, um dos chefes da polícia farta-se de ser criticado por não conseguir baixar a taxa da criminalidade e decide, sem dar cavaco a ninguém, empurrar os traficantes e os consumidores para três bairros, deixando-os comprar e vender à vontade e limpando o resto da cidade. Claro que a criminalidade baixa, mas a ideia não é muito bem aceite pelas restantes forças vivas da cidade. Entretanto, Daniels e a sua equipa continua o cerco a Bell, não o conseguindo apanhar porque Omar chega primeiro.

Cinco estrelas!

The Wire – 1ª série

wire1Há muito tempo na lista, só agora surgiu a oportunidade de ver a 1ª época desta série da HBO, criada por David Simon.

Sabendo que a série não tem muita publicidade e que os actores são pouco ou nada conhecidos, temo que admitir que The Wire é uma excelente surpresa.

A acção passa-se em Baltimore, nas zonas mais pobres dos bairros sociais, onde a droga impera. Um polícia, McNulty, está decidido a acabar com um bando de passadores de droga, todos afro-americanos, que não olham a  meios para passar os seus produtos.

McNulty consegue que os seus chefes criem uma pequena força policial que se vai dedicar, exclusivamente, a tentar apanhar Avon Barksdale e o seu bando.

Mas parece que a hierarquia está mais interessada em que McNulty falhe nos seus intentos, porque o dinheiro da droga pode levar a outros lados, nomeadamente ao financiamento de alguns senadores.

Se eu vivesse em Baltimore, sentiria vergonha ao ver esta série, pois parece que a maior parte dos polícias e procuradores públicos, ou são corruptos, ou incompetentes.

Não cedendo à violência gratuita, nem aprofundando muito as vidas privadas das muitas personagens – apenas nos dando traços gerais, o que nos permite sermos nós a completar o desenho da personagem – The Wire é uma excelente série policial, que vale a pena seguir (parece que já vai na quinta e última época).