Minha alegre casinha


A meio caminho entre o Cais do Sodré e o Cais da Colunas, lá está mais um mamarracho urbano: uma grande argola de aço (?) e, por trás dela, uma espécie de cubo formado por seis filas de barras sobrepostas.

Agora, a falta de graciosidade do mamarracho está ainda mais à vista, graças às obras de saneamento que decorrem na avenida Ribeira das Naus e que transformaram aquele local num misto de parque de estacionamento selvagem, lixeira e praia inesperada.

Pois foi em frente ao tal cubo horrível que alguns sem abrigo decidiram procurar abrigo. Uns oleados, umas estacas de madeira, uns caixotes de banana Bonita e aí temos um excelente apartamento, com vista para o Tejo.

E a foto mostra um dos residentes, sentadinho, deixando-se acariciar por este glorioso sol de uma nova primavera.

Aluga-se T1 em Cacilhas

Família romena aluga T1 em zona central de Cacilhas. A 5 minutos dos barcos para Lisboa, mesmo junto a uma estação do Metro Sul do Tejo, em zona com muito comércio. A área é pequena, mas arejada e tem uma linda vista para o parque de estacionamento da Avenida 25 de Abril. Boa oportunidade. Cede-se pela melhor oferta.

Roménia dos (ainda) mais pequenitos

Nunca foste à Roménia?

Nesse caso, deixo aqui uma boa oportunidade: apanhas o cacilheiro para Cacilhas, percorres a estrada que ladeia a Lisnave e, perto do Hospital Particular de Almada, viras à esquerda, na estrada de terra batida que leva até à ETAR, passando pelo parque das camionetas.

Quando avistares a ETAR – e antes de chegares ao pequeno “porto” de barcos de pesca, com o muro do Arsenal do Alfeite à tua frente – viras à direita e já está…

…estás na Roménia…

Várias famílias de romenos vivem aqui, neste baldio, em mini-barracas feitas com bocados de contraplacado e cartão e plásticos. Dentro de cada barraquinha, um colchão e cobertores.

Todas as manhãs, é vê-los percorrerem a Avenida do Movimento das Forças Armadas, que bordeja a Lisnave.

Vão para o trabalho.

Vão para Lisboa, onde estacionam em sítios estratégicos, para pedir umas moedas.

Vão em busca de colchões, roupas deitadas ao lixo, cobertores, desperdícios que, para eles, têm um valor incalculável.

Alguns levam (às costas) a canadiana que, depois, lhes permite fazer de conta que são coxos, a fim de pedirem uns trocos ao transeunte distraído.

A maior parte deles são jovens, mas há um ou outro velho, com aspecto de ter mais de 70 anos, verdadeiramente coxos.

E eu pergunto-me: o que faz que um tipo atravesse a Europa para vir dormir numa barraca mal enjorcada, junto ao Tejo, na Cova da Piedade, em Portugal?

Ah leão!

Só agora comento a cena de porrada entre Sá Pinto e Liedson porque só agora me passaram os espasmos de tanto rir…

A coisa ainda teve mais graça porque aconteceu no dia em que a Academia do Sporting foi considerada a melhor da Europa, e no dia em que a equipa sofreu três golos made in China.

Percebe-se por que razão a Academia de Alcochete é a melhor da Europa: se os seus alunos não se portam como deve ser, o director desportivo dá-lhe umas valentes murraças nas ventas que é para aprenderem.

Compreende-se que Sá Pinto estivesse nervoso: há muito tempo que o Sporting não sofria três golos no mesmo jogo e, ainda por cima, marcados pelo mesmo chinês que, em vez de estar na loja a vender quinquilharia, foi a Alvalade humilhar o leão. O chinês chama-se Zang – e Sá Pinto ficou zangado.

Também há quem diga que Sá Pinto é assim uma espécie de “serial killer” ou, melhor dizendo, “serial boxer”. Tal como esses criminosos que, por vezes, estão anos parados e, depois, quando algo os irrita, voltam a matar, também Sá Pinto, depois do soco em Artur Jorge, esteve muitos anos sem bater em ninguém da selecção nacional. Teve que esperar que Liedson se naturalizasse e que Carlos Queirós o convocasse para a selecção para o poder esmurrar.

Diz-se que a cena de pancadaria foi provocada por uma observação que Liedson fez à atitude dos sócios perante a fífia do guarda-redes leonino, que deu origem ao segundo golo de Zang, mas eu acho que fui tudo uma confusão entre futebol e soccer.

Não foi bem uma caldeirada – foi mais bacalhau à Gomes de Sá Pinto com Liedson a murro.

Avaliações

A propósito da avaliação dos professores e do acordo finalmente conseguido, quero deixar aqui o meu testemunho, após 28 anos de carreira como médico.

Terminei o curso em 1977 com média de 15 e entrei no internado geral, passando pelos Hospitais D. Estefânia, Curry Cabral, Capuchos e S. José, fazendo, ainda 8 meses de Saúde Pública, no Centro de Saúde de Armamar, perto da Régua.

Em seguida, fiz Serviço Médico à Periferia, em Mourão, Alentejo, durante 8 meses, após o que fiz o Serviço Militar Obrigatório, no Hospital Militar de Évora.

Mais tarde, fiz o exame nacional para entrada na especialidade. O exame constava de 100 perguntas de resposta múltipla. Tive 64 respostas certas, o que me permitiu entrar na especialidade de psiquiatria no Hospital Miguel Bombarda. Estive lá 2 anos e meio mas a especialidade desiludiu-me. Decidi entrar na Medicina Geral e Familiar. Foi mais um concurso público e consegui colocação no Centro de Saúde de Almada.

Como não tinha formação específica em Medicina Familiar, frequentei a chamada Formação Específica em Exercício, que durou cerca de um ano e, no final da qual, fui sujeito a um exame público, com um júri composto por três membros, que me atribuiu a nota de 18 valores. Passei a ser assistente de Clínica Geral.

Alguns anos depois, fiz uma prova curricular que me permitiu subir à categoria de assistente graduado, onde ainda me mantenho.

Se quiser ascender ao topo da carreira, terei que aguardar que haja vagas para Chefe de Serviço e sujeitar-me a mais um exame público.

Neste momento, faço parte de Unidade de Saúde Familiar e o meu ordenado é composto por uma parte fixa e outra que varia consoante a minha prestação. Sou avaliado pela qualidade de seguimento das grávidas (devem ter 6 consultas durante a gravidez, revisão de parto efectuada e eco do 1º ou 2º trimestre registada), do seguimento de crianças (devem ter 6 consultas no 1º ano de vida e 3 no 2º ano), do seguimento de mulheres em planeamento familiar (devem ter uma consulta por ano com colpocitologia registada), do seguimento de diabéticos (devem ter 2 consultas anuais, com registo de tensão arterial, ficha lípidica e duas hemoglobinas glicosiladas, sendo que uma delas deve estar abaixo de 8.5%), do seguimento de hipertensos (devem ter duas consultas anuais, com dois registos de tensão arterial, sendo que um deles deve ser abaixo de 140/80 e registo da ficha lipídica). A equipa multiprofissional de que faço parte, é ainda avaliada pela percentagem de mamografias, de crianças com as vacinas em dia, de domicílios médicos e de enfermagem, etc, etc.

I rest my case…