O inverno do nosso descontentamento…

Sócrates já não está só.

Finalmente, Vitor Gaspar reconheceu que não é só o ex-primeiro-ministro o culpado pela crise que atravessamos.

Gaspar apontou mais dois culpados: o Tribunal Constitucional e a chuva.

Não, não estou a brincar…

O Tribunal Constitucional, já se sabia.

«A alteração ao Orçamento de Estado foi necessária devido ao aumento de despesa exigido no seguimento da decisão do Tribunal Constitucional» – disse Gaspar.

gaspar_choveE não vale a pena repetir-lhe que é o Governo que tem tomar decisões de acordo com a Constituição e não a Constituição que tem que se moldar às decisões do Governo.

O Gaspar não entende…

Agora, a chuva!

Sim senhor, a chuva!

Disse Gaspar: «é muito preocupante (a queda do investimento porque este foi) adversamente afectado pelas condições meteorológicas que no primeiro trimestre afectaram a actividade da construção» – disse o Iluminado.

Nós bem vimos os trabalhadores e empresários da construção civil, debaixo dos telheiros, de gabardina e chapéu de chuva, acoitando-se das bátegas de água que se abatiam sobre os terrenos baldios!

Eles cheios de vontade de construir prédios e bairros e vivendas e a chuva a não deixar!

Sacana da chuva!

Apetece gritar: ó Gaspar, vai ver se chove, pá!

Fé em Cristas

Assunção Cristas (a Sãozinha, para os colegas da cataquese) acredita que vai chover.

É uma questão de fé.

Disse ela:

“Devo dizer que sou uma pessoa de fé, esperarei sempre que chova e esperarei sempre que a chuva nos minimize alguns destes danos. Como é evidente, quanto mais depressa vier, mais minimiza, quanto mais tarde, menos minimiza. Se não vier de todo, não perderei a minha fé mas teremos obviamente de atuar em conformidade”.

O grau de complexidade deste raciocínio da ministra do MAMAO (Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento), merece ser escalpelizado.

Graças a estas afirmações da Sãozinha, ficamos a saber que:

1º A ministra é uma pessoa de fé

2º A ministra esperará, sempre, a chegada da chuva

3º Se a chuva chegar, a seca será minimizada

4º Se a chuva chegar mais depressa, a seca mais depressa será minimizada

5º Se a chuva chegar mais tarde, a seca será minimizada mais tarde

6º Mesmo que a chuva não chegue, a ministra não perderá a sua fé

7º Nesse caso, atua

Não tarda, vamos ver o MAMAO a financiar paróquias da província para que os padres rezem a pedir chuva ou, até, a organizar uma grande peregrinação a Fátima, a ver se chove.

Não percas a fé, Cristas, mas não rezes demasiado ou ainda levamos com algum dilúvio!

Este é o Inverno do nosso descontentamento

Não, não falo do Freeport, do Face Oculta, do Programa de Estabilidade e Crescimento, da crise internacional, da taxa de desemprego, dos três patéticos candidatos à presidência do PSD, do Orçamento Geral do Estado, da Comissão de Ética da Assembleia da República e da sua inutilidade, do ano de 369 dias de Cavaco Silva (1), do plano de Jardim para aumentar a superfície da Madeira, à custa da lama e dos pedregulhos da enxurrada.

Estou mesmo a falar da porra deste Inverno!

Será que não pára de chover, carago?!

Estou farto de frio, de nevoeiro, de vento e de chuva!

Chega, porra!

Olha para o Tejo, hoje, tão triste que estava!…

(1) “Falta tanto tempo. Um ano, doze meses, 369 dias. Falta ainda muito tempo. Não acreditam no que digo e não insisto. Mas é assunto em relação ao qual eu não dediquei ainda um minuto da minha ponderação”, afirmou Cavaco Silva, a propósito da sua hipotética recandidatura.