Não se importa de repetir?

“Não houve muitas situações de golo de parte a parte, mas se calhar a equipa que esteve mais próximo de chegar ao golo foi o Braga.”

– Domingos Paciência, no final do jogo que o Benfica ganhou por 1-0 (estatística do jogo: oportunidades de golo (7-3), remates em direcção à baliza (6-3), cantos (7-6), passes com êxito (76%-71%), posse de bola (56%-44%) – tudo a favor do Benfica)

Génova não dorme!

Quatro milhões por aquela abécula?!

Nós pagámos quatro milhões ao Braga por aquele guarda-frangos que leva quatro do Chipre?!

Um milhão por cada frango?!

E mais um frango inacreditável frente à Noruega!

Bastou aquele norueguês típico, morenaço e tudo, chamado Carew, dois metros de escandinávia em cima do saloio do Minho e o gajo atrapalha-se, chuta a bola contra o calmeirão, deixa que ele lhe caia em cima e lhe esborrache os tintins e pronto: golo da Noruega.

Depois, foi cerca de uma hora de incompetência dos jogadores e do treinador, aquele tipo com um capachinho na cabeça e com um bigode que já não se usa.

Mas isso, é problema dos portugueses.

Agora nós, cá em Génova, não estamos a dormir e a margem de erro desse frangueiro do Eduardo é de 5 minutos – que é o tempo que a gente leva a colocar-lhe uma bomba no carro…

A cona da mãe

Dizem que Braga é a cidade dos arcebispos.

Só isso seria o suficiente para afastar o comum dos mortais dessa cidade.

Imaginem uma cidade só com tipos vestidos com aqueles fatos ridículos, uma espécie de saias até aos pés, com botões de cima a baixo, como se tivessem braguilhas gigantes, e todos sibilando os “ésses”, juntando as mãos, em prece, e sentando meninos no colo, fazendo cavalinho com os joelhos, numa atitude ameaçadoramente terna.

Sente-se, assim, uma espécie de asco, de nojo que nos vem do âmago.

Mas, felizmente, Braga é uma cidade bonita, com muita gente nova e a história dos bispos e arcebispos tem cada vez menos importância.

Senhores vestidos de negro, ou com naperons sobre os ombros e chapéus cónicos e ridículos, e segurando grandes cajados cravados de diamantes, têm cada vez menos influência numa sociedade moderna, evoluída, civilizada.

Ou não?

Então nao é que, em Braga, numa feira do livro, a polícia apreendeu cinco exemplares de um livro, intitulado “Pornocracia”, que tinha esta figura na capa?

origemdomundo

Trata-se da reprodução de uma pintura, da autoria de Gustav Courbet, datada de 1866, e intitulada “A Origem do Mundo”.

Suponho que os polícias, ao verem a capa dos livros, tenham exclamado: “Mas esta é a cona da minha mãe!”

E toca a apreender o livro, não fossem as criancinhas que por ali andavam, mascaradas de homem-aranha, capuchinho vermelho ou bela adormecida, olhassem para a capa do livro e exclamassem: “Ó mamã! Olha aquela senhora com tantos pêlos no pipi! Parece mesmo a mãe do senhor polícia ou do senhor arcebispo de Braga!”

Não estou a insinuar que foram os bispos de Braga que obrigaram a PSP a ir àquela feira do livro apreender os livros com a reprodução da pintura de Courbet na capa.

Longe de mim imaginar que os bispos e os polícias têm algo contra a vagina – já que todos eles, todos sem excepção, tiveram uma mãezinha e, exceptuando os que nasceram de cesariana, todos sairam por aquele orifício, ali representado na pintura do francês, bem rodeado de pêlos.

Não foi por isso.

Também não acredito que quem decidiu a apreensão dos livros se tenha querido armar em agente da PIDE – que é uma coisa que cada vez menos pessoas se lembra do que foi e ainda bem!

Finalmente, não acredito que este gesto tenha algum significado especial, tipo “estamos a voltar ao antes do 25 de abril”, ou “cada vez há menos liberdade”, ou “o Sócrates é responsável por este clima de medo, que leva as autoridades a tomarem atitudes cada vez mais discricionárias”.

Nada disso.

O que se passou foi bem mais simples: alguns cidadãos bracarenses, altamente traumatizados por mães castradoras, não resistiram quando viram, na capa daqueles livros, a representação da cona da mãe deles.

E fizeram queixa à polícia.

Os polícias, por sua vez, também não conseguiram resistir à imagem da cona da mãe deles, e levaram os livros todos para a esquadra.

Algum espanto?

É este o poder da cona da mãe!

De regresso a casa

Foram mais 420 km para regressar a casa.

Antes de nos metermos na auto estrada, demos um salto a Póvoa do Lanhoso, que tem um castelo bem preservado, no cimo de um penhasco granítico, no Monte do Pilar.

A construção é tão antiga como Dona Urraca e tem histórias curiosas como a de Rodrigo Gonçalves, um dos seus inquilinos que, ao descobrir que a sua mulher dormia com um frade do Bouro, fechou a malta toda dentro do castelo e pegou-lhe fogo.

Consta que o frade e a esposa do Gonçalves nunca mais pecaram.

Parámos, depois, em Braga que, tal como Viana, merece uma visita mais prolongada.

Demorámos um pouco até encontrar o Bom Jesus, graças aos letreiros enganadores e à minha teimosia em não aderir ao GPS, mas lá demos com ele.

O Bom Jesus é uma daquelas construções barrocas que nos espantam pela paciência dos seus autores.

Datado de 1874, o conjunto arquitectónico destaca-se pela profusão de estátuas, escadaria acima, sempre com fontes centrais, deitando água, sucessivamente, pelos ouvidos, pelo nariz, pelos olhos – e só não deita água pela traqueostomia, porque Carlos Amarante, o arquitecto, não se lembrou.

Lá de cima, o panorama não é tão bonito como em Viana, porque não há rio, muito menos Oceano – só prédios de uma cidade que está cada vez maior.

No centro de Braga – cheio de adeptos do Portsmouth que, nessa mesma noite, haveriam de levar 3-secos do Sporting de Braga – demos uma volta pela Praça do Município, o Largo do Paço e a Praça da República, só para abrir o apetite para futura visita.