“Humidade”, de Reinaldo Moraes (2005)

Reinaldo Moraes nasceu em São Paulo há 67 anos e ficou conhecido, por cá, graças ao romance Pornopopeia, que li há uns anos e de que não gostei particularmente.

Achei-o vulgar e cansativo, no que às descrições de orgias sexuais dizia respeito, e muito difícil de ler, devido ao brasileiro muito fechado.

Porém, antes de publicar o romance, Moraes tinha lançado este livro de contos, Humidade, e acho que a sua escrita descabelada e pornográfica se adequa muito mais aos contos que a um romance de 600 páginas.

Esta colecção de contos é, no entanto, um pouco heterogénea, no que respeita à qualidade: há dois muito bons, há alguns menos bons e há outros perfeitamente dispensáveis.

No entanto, os contos Sildenafil e Humidade, valem o livro.

O conto Sildenafil (princípio activo do Viagra), é todo escrito em discurso directo; é uma conversa entre um marido e sua mulher, na cama, ela tentando que ele a coma, finalmente, depois de muito tempo de jejum sexual.

Em Humidade, Liminha, um informático banal, consegue engatar a Mariana, uma mocetona linda de morrer, boa como o milho, como nós diríamos, mas que se quer manter virgem até ao casamento e, pelos vistos, mesmo depois do casamento.

Mais do que as histórias propriamente ditas, o que torna este livro muito divertido, é a linguagem que Moraes usa.

Posso dar muitos exemplos.

Na história que dá título ao livro, o tal Liminha, depois de mais uma tampa da namorada, exclama:

Ah, replicou o Liminha mentalmente, se a tua mãe não fosse aquela catedral obtusa de gordura e carolice você não seria a neurótica que é e estaria a sentir, agora, uma Foz do Iguaçu de porra apaixonada escorrendo por essas pernas magníficas, depois de uma noite de sexo insano, minha flor…

No conto Festim, Fátima Márcia, que tenta caçar um ricalhaço, vai de táxi para uma festa na mansão do futuro marido:

No táxi, FM, como ela também gostava de ser chamada, foi idealizando lindos e mancebosos exemplares de homo erectus dispostos a adentrar com aguda sensibilidade sua fratura ontológica e encher de sentido seu ser-aí.

E só mais um exemplo, que podiam ser muitos mais. Este é retirado da História à Francesa, em que um conde já entradote, casado com uma princesa muito mais jovem, gostaria que ela lhe lambesse um determinado sítio, mas não tem coragem para pedir:

Não contente em alojar o estrongalho na pandoreba ainda despreparada da moxa, o conde, ao mesmo tempo, introduziu-lhe um salivado índex no olho do rebulho, sem deixar de bolinar-lhe as balonetas bicudas e dar-lhe trabalho à lâmbia, que o escolado conde atiçava com a sua própria lâmbia assanhada e babilenta.

Vale a pena o tempo que se perde a decifrar o português!…

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