Avaliações

A propósito da avaliação dos professores e do acordo finalmente conseguido, quero deixar aqui o meu testemunho, após 28 anos de carreira como médico.

Terminei o curso em 1977 com média de 15 e entrei no internado geral, passando pelos Hospitais D. Estefânia, Curry Cabral, Capuchos e S. José, fazendo, ainda 8 meses de Saúde Pública, no Centro de Saúde de Armamar, perto da Régua.

Em seguida, fiz Serviço Médico à Periferia, em Mourão, Alentejo, durante 8 meses, após o que fiz o Serviço Militar Obrigatório, no Hospital Militar de Évora.

Mais tarde, fiz o exame nacional para entrada na especialidade. O exame constava de 100 perguntas de resposta múltipla. Tive 64 respostas certas, o que me permitiu entrar na especialidade de psiquiatria no Hospital Miguel Bombarda. Estive lá 2 anos e meio mas a especialidade desiludiu-me. Decidi entrar na Medicina Geral e Familiar. Foi mais um concurso público e consegui colocação no Centro de Saúde de Almada.

Como não tinha formação específica em Medicina Familiar, frequentei a chamada Formação Específica em Exercício, que durou cerca de um ano e, no final da qual, fui sujeito a um exame público, com um júri composto por três membros, que me atribuiu a nota de 18 valores. Passei a ser assistente de Clínica Geral.

Alguns anos depois, fiz uma prova curricular que me permitiu subir à categoria de assistente graduado, onde ainda me mantenho.

Se quiser ascender ao topo da carreira, terei que aguardar que haja vagas para Chefe de Serviço e sujeitar-me a mais um exame público.

Neste momento, faço parte de Unidade de Saúde Familiar e o meu ordenado é composto por uma parte fixa e outra que varia consoante a minha prestação. Sou avaliado pela qualidade de seguimento das grávidas (devem ter 6 consultas durante a gravidez, revisão de parto efectuada e eco do 1º ou 2º trimestre registada), do seguimento de crianças (devem ter 6 consultas no 1º ano de vida e 3 no 2º ano), do seguimento de mulheres em planeamento familiar (devem ter uma consulta por ano com colpocitologia registada), do seguimento de diabéticos (devem ter 2 consultas anuais, com registo de tensão arterial, ficha lípidica e duas hemoglobinas glicosiladas, sendo que uma delas deve estar abaixo de 8.5%), do seguimento de hipertensos (devem ter duas consultas anuais, com dois registos de tensão arterial, sendo que um deles deve ser abaixo de 140/80 e registo da ficha lipídica). A equipa multiprofissional de que faço parte, é ainda avaliada pela percentagem de mamografias, de crianças com as vacinas em dia, de domicílios médicos e de enfermagem, etc, etc.

I rest my case…

12 thoughts on “Avaliações

  1. Discordando de si em coisas que para mim são fundamentais, são textos como este que me fazem não desistir de o ler.

    Disse “I rest my case”. Eu digo “Say no more”.

  2. Quanto ao ensino em portugal, isto anda tudo ao contrario.Enquanto nao se tocar no estatuto (intocavel) do aluno,isto nao vai a lado nenhum.Nao se pode levantar um dedo ou a voz as pobres criaturas, pois isso traria danos psicologicamente irreversiveis aos adultos mimados do nosso futuro.Os sindicalistas (parasitas),dos professores so se interessam por € (euros)(e neste assunto escuso-me de acrescentar seja o que for).Quanto aos medicos,sao simplesmente a classe que mais medo e respeito mete a classe politica.Nao ha quem lhes faça frente.E penso que nao se podem queixar.Enquanto houver laboratorios farmaceuticos a pagar grandes jantaradas e premios aos profissionais de saude….Portanto, temos dois sectores essenciais da sociedade (saude e ensino),muito mal entregues.Contando que em todos os sectores existem bons e maus profissionais,a coisa deve andar ai nos 50/50.Pessoalmente estou muito bem servido de medico de familia, mas a com cada um…

    1. Pois… há maus e há bons, em todas as profissões. No entanto, e apesar das jantaradas e dos congressos pagos pela indústria farmacêutica, a taxa de mortalidade infantil, em Portugal, é das melhores do mundo, a esperança média de vida aumentou consideravelmente e os cuidados de saúde não têm nada a ver com os de há 20/30 anos. Quanto à Educaç~ão, no entanto, os números são bem diferentes. Se calhar, o que os professores precisavam era de laboratórios a pagar-lhes jantares. Aliás, penso mesmo que todos os portugueses produziriam muito mais se tivessem alguém que lhes pagasse “grandes jantaradas”…
      Nota: por decisão pessoal, não aceito convites, lembranças ou qualquer outra dádiva “desinteressada” da indústria farmacêutica.

      1. Sr. Artur respondo-lhe nao por casmurrice mas por uma saudavel exposiçao de ideias(sou fã da sua forma livre de pensar e escrever),e nao precisa nem de publicar este comentario.Fui militar durante quatro anos e meio, e realizei entre outras coisas missoes humanitarias no estrangeiro, e desde essa altura percebi que Portugal tem a melhor mao d’obra existente.Nesse aspecto gozamos de um estatuto invejavel por esse mundo fora.Por outro lado somos tambem os mais corruptiveis,influenciaveis,e subornaveis que conheço.E como em tudo o exemplo vem de cima.A nossa classe politica e uma vergonha.Tenho muita pena de nao me conseguir fazer ouvir aqui de baixo.Francamente ajudaria a mudar muitas coisas que estao mal, pois tenho conhecimento de causa.

      2. “somos os mais corruptíveis, influenciáveis e subornáveis que conheço”. Ó meu amigo! apesar de ter visitado outros lugares do mundo, continua a pensar assim? Já esteve em África? E na Américo do Sul? Será que somos, MESMO, os mais subornáveis? Que tal uma visita, por exemplo, a Angola…

  3. Parece-me que, falando apenas da sua profissão, foi irritantemente cristalino.
    Eu permito-me apenas recordar que o “patrão” é o mesmo.
    Já agora permito-me recordar outra coisa: inquestionávelmente os cuidados de saúde têm melhorado, nos úlimos 25 anos. Lamentávelmente, não podemos dizer o mesmo da qualidade do ensino.

  4. Professores governem-se.
    As arrecuas do Sócrates Alçada destrói o que de melhor o anterior governo tinha feito na área da educação.
    Em qualquer lado há avaliação e quotas. Já imaginaram o que seria uma empresa em que todos os licenciados chegassem obrigatóriamente a directores desde que o seu desempenho fosse classificado de bom e todos nós sabemos como são as classificações na função pública. Variam entre o bom, muito bom e excelente.
    Só consigo entender isto na perspectiva maoista de um passo atrás para dar dois passos em frente.

  5. Pequeno off-topic:

    O “Sr. Coiso”, segundo as minhas contas, deve ter sido colega de curso dos meus Pais, e tiveram trajectos de vida +/- semelhantes, tendo todos “acabado” em Clínica Geral. Portanto, é bem possível que se conheçam. Isto para dizer que, nesta coisa das avaliações, até parece que estou ouvi-los a dizer o que disse, pois o discurso (especialmente o dele) é precisamente o mesmo.

    Cumprimentos,

    1. O meu nome é Artur Couto e Santos e tenhoi quase 57 anos. Terminei o curso de Medicina em 1977. “O Coiso” era o nome de um jornal humorístico, mais ou menos anarquista, que ajudei a fundar, em 1975.

      1. Caro Artur,

        assim sendo foi por “um pouquinho assim”. Apesar de ele também estar prestes a ter os mesmos 57, o curso dele terminou em 76 (João Augusto Amaral Rocha de Oliveira). A minha Mãe, dois anos mais nova, terminou o curso em 78 (Maria Madalena Silva Anjos Moura de Oliveira). Portanto, é possível que afinal não se conheçam, no entanto, pela certa, cruzaram-se nos corredores de Sta Maria e quem sabe profissionalmente.

        De forma alguma entenda o que vou dizer de seguida como algo negativo, mas sinto-me obrigado a dizê-lo. Tanto eu como a outra assídua do Coiso (a Vespinha) tinhamos a convicção que o Artur seria alguém da nossa idade (entre os 28 e os 35), essencialmente pelo estilo de escrita, pelo forte humor mais jovem e pelo mentalidade mais aberta. Como tal, muitos parabéns e… quem me dera chegar a essa idade com esse espírito.

        Cumprimentos,

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