“Quando é que Jesus traz as costeletas?”, de George Carlin

quandojesus.jpgAo contrário de Jerry Seinfeld, George Carlin é um comediante de stand up pouco, ou nada, conhecido em Portugal.

Muito mais politicamente incorrecto que Seinfeld, muito mais duro na linguagem e nas críticas, Carlin é mal disposto por natureza e parece estar contra tudo e contra todos.

Neste seu livro – cujo título, segundo o autor, é este porque consegue, numa só frase, “consegue ofender cristãos, muçulmanos, judeus e vegetarianos” – Carlin barafusta, sobretudo, contra os eufemismos. Nesta linha, o autor chama a nossa atenção para o facto de, de repente, termos começado a “ver «programas de animação», em vez de desenhos animados. (…) Os «teatros» acharam que estavam a ficar ultrapassados e, por isso, transformaram-se, também eles, em «centros de artes performativas» ou, às vezes, «espaços performativos» em consonância com algumas «discotecas» que começaram a ser chamadas «espaços de animação nocturna» (as mais alternativas, são só «espaços»).”

A mania da linguagem politicamente correcta pode, segundo Carlin, transformar provérbios populares em coisas imperceptíveis. É o caso do provérbio «em terra de cegos, quem tem um olho, é rei», que se transformará em: «em área de residência de invisuais, aquele que tiver um défice de cinquenta por cento no número tradicional de globos oculares com que o ser humano costuma vir equipado, tem mandado popular para governar».

O livro é um pouco irregular, misturando grandes discursos contra os tais eufemismos, com histórias quase surrealistas sobre tios esquisitos, textos de algum mau gosto, nacos demasiado ligados à realidade norte-americana para que tenham graça entre nós, e aforismos deliciosos, como este: “muitos homossexuais recusam-se a sair do armário porque gostam mesmo de roupa”.

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