“Hackney Diamonds”, dos Rolling Stones (2023)

Envelhecimento activo é isto, caramba!

Ronnie Wood tem 76 anos, Keith Richards, 79 e Mick Jagger, 80. Para este disco convidaram, entre outros, Elton John, 76 anos, Stevie Wonder, 73 e Paul McCratney, 81 anos.

Este grupo de velhotes, gravou 12 temas que fazem inveja a muita gente, digamos, com menos de 70 anos…

Os riffs de Richards destacam-se, e parece que estão ainda melhores, talvez devido à artrite. A voz de Jagger mantém-se e continuamos a não perceber metade do que ele canta, coisa que acontece deste Satisfaction.

Gosto particularmente de Angry, Mess It Up, Live By The Sword e, sobretudo, Bite My Head Off, mas todas as faixas são recomendáveis.

Penso que estes Rolling Stones têm futuro!

McCartney III (2020)

A desculpa é a seguinte: Paul McCartney esteve confinado por causa da covid 19 e decidiu gravar um disco, em que toca todos os instrumentos, tal como já tinha acontecido no disco de 1970, o primeiro a solo, depois do fim dos Beatles, e no de 1980.

Portanto, este é o McCartney III, o terceiro disco em que o ex-Beatle canta, faz os coros, toca todos os instrumentos e produz o disco.

Temos de dar algum desconto, porque o homem tem 78 anos e, com o passado que tem, pode fazer o que lhe apetece, mas o disco é banal e ouve-se sem nenhum sobressalto.

Como ele diz, na canção Seize the Day, “dinossaurs and Santa Clauss will stay indoors tonight”.

É o que apetece, quando se ouve este disco, ficar em casa.

Por que raio este ancião lançou mais um disco?

Porque pode.

Acredito que lhe deve ter dado muito gozo, mas… o que já foi, não volta a ser…

“Caravanas”, de Chico Buarque

Foi em 1966 que Chico Buarque começou a sua carreira como músico, compositor, intérprete do melhor que se fez na chamada música popular brasileira nas últimas décadas.

Só quase 10 anos depois o descobri, com o LP duplo “A Arte de Chico Buarque”.

Fiquei fã.

Chico consegue juntar três características únicas: excelentes melodias, letras óptimas e interpretação correcta. Ainda por cima, as letras são saudavelmente de esquerda. Sim, de esquerda!

Saiu agora o seu último trabalho, “Caravanas” – é apenas meia hora de canções, nove temas perfeitos, que tenho escutado todos os dias.

É muito bom chegar aos 74 anos e conseguir atingir esta perfeição.

Destaco, no entanto, dois temas: “Tua cantiga” e “Caravanas”.

Dois clássicos instantâneos.

No dia 7 de Junho, iremos vê-lo ao vivo!

The Art of Paul McCartney

art of paul mccartneyEu sei que não é politicamente correcto gostar de McCartney.

Se, gostar dos Beatles já é um sacrilégio para os intelectuais que se vêm com o palerma do Panda Bear, ser fã do McCartney deve equivaler a sofrer um AVC;

… Na eventualidade de gostarmos dos Beatles, que seja do Lennon ou, melhor ainda, do Harrison, que eram… enfim, eram…

Vão-se lixar!

O velho McCartney é responsável por algumas das melhores canções pop dos últimos 40 anos, quer queiram, quer não.

Este CD de tributo é disso prova.

Billy Joel interpreta “Maybe I’m Amazed” e “Live and Let Die”, Bob Dylan canta “Things We Said Today”, Harry Connick Jr. interpreta “My Love”, Willie Nelson canta “Yesterday”, um surpreendente Barry Gibb canta “When I’m Sixty Four”.

Tudo velhotes?

E depois?

Atentem no “Helter Skelter” do Roger Daltrey, do “Hello Goodbye”, dos Cure, do “Let i Be”, da Chrissie Hynde, ou no “On The Way”, do B. B. King e chamem velhos a outros!

Boa nota também para a versão do “Let’em In”, do Dr. John, ou do “Got to Get you in My Life”, do Perry Farrell.

Enfim, são 34 temas, mas podiam ser muitos mais!

Thanks Sir McCartney!

“Tales of Us”, dos Goldfrapp

goldfrappA menina Allison Goldfrapp e o Sr. Will Gregory regressaram às origens.

Depois de alguns disco mais virados para as discotecas, voltaram à sonoridade do primeiro álbum, Felt Moutain. No álbum de 2008, Seventh Tree, já tinham tentado esse regresso, mas este Tales of Us é mais maduro.

Tales of Us é aquilo a que se chamava, nos anos 60 e 70, um álbum conceptual; são dez canções homogéneas, com a mesma sonoridade, todas elas com tranquilas. Cada uma delas tem o nome de uma pessoa e destaco Jo, Annabel e Clay, mas todas elas são muito audíveis.

Aconselho vivamente.

“…Like Clockwork”, Queens of Stone Age

Tive o prazer que conhecer os QOSA através do disco Songs For The Deaf (2002). Quando o ouvi pela primeira vez, lembrei-me da cena de um filme do Woody Allen, em que ele, num clube onde está a actuar uma banda de hard rock e, perante o barulho ensurdecedor e o ar assustador dos membros da banda, pergunta: «E no final ele vão fazer reféns»?.

queens-of-the-stone-age_like-clockwork-608x6082Foi o que imaginei depois de ouvir aquele disco desta banda californiana. O ambiente soturno das composições, a voz mais ou menos cavernosa do vocalista, a energia das guitarras e o ritmo frenético mas, ao mesmo tempo, algo fúnebre, fazia temer o pior.

E, no entanto, gostei.

Muito.

O disco seguinte, Lullabies to Paralyse (2005), já não me entusiasmou tanto e Era Vulgaris (2009), passou-me ao lado.

Saiu agora este …Like a Clockwork e estou rendido.

Da formação inicial dos QOSA já só resta o líder Joshua Homme, que nasceu há 40 anos, na Califórnia. O homem é o principal vocalista e também toca guitarra e baixo e cheira-me que os Queen of Stone Age é uma coisa muito dele, razão pela qual os outros músicos nunca aquecem o lugar.

Neste disco, Dave Grohl volta a estar na percussão e Nick Oliveri no baixo (depois de terem sido despedidos, foram readmitidos), mas temos algumas participações notáveis, como Tent Reznor (dos NIN) e Elton John (quem diria?).

E o disco é bom do princípio ao fim, com faixas muito fortes, como If I Had a Tail e Smooth Sailing, a mais comercial My God Is The Sun, mas todas muito recomendáveis.

Aconselho vivamente.

“The Next Day”, de David Bowie

nextdayQuem sabe, nunca esquece.

É uma grande verdade que Bowie confirma com este surpreendente disco aos 66 anos.

Surpreendente porque surge depois de longos anos de silêncio, porque surge depois de ter sofrido um enfarto do miocárdio (já lá vão 8 ou 9 anos) e porque não é mais do mesmo, como tem acontecido com outros músicos dos anos 60-70, como McCartney (cansativo) ou Paul Simon (apenas com alguns lampejos).

Este novo disco de Bowie é bom do princípio ao fim e, apesar de ter todos os ingredientes próprios de Bowie, soa a novo.

As guitarras soam angustiadas, a voz dele mantém-se tensa, as melodias são depressivas – não há dúvida que o disco é actual e resulta dos tempos que vivemos.

Aguentem lá este sexagenário e aprendam com ele!

‘Twas 45 years ago today…

… Sargent Pepper taught the band to play

É muito difícil transmitir aos jovens de hoje, o assombro que era ouvir este álbum nos idos de 60 do século passado.

O primeiro álbum conceptual de rock psicadélico saiu no dia 1 de Junho de 1967, tinha eu 14 anos. Eu era ainda uma criança e esse ainda não era o Dia Mundial da dita.

Os Beatles não eram muito apreciados na rádio portuguesa e era raro ouvir um tema deles nas emissões do Armando Marques Ferreira ou do Henrique Mendes, em programas chamados Clube das Donas de Casa e similares.

No Portugal triste e cinzento de Salazar, até os Beatles eram quase clandestinos.

Eu tive a sorte de ter um tio que era jornalista desportivo, o Francisco Couto e Santos. Trabalhava no Mundo Desportivo e acompanhava o Benfica de Eusébio, Coluna e Companhia, nas suas aventuras europeias. De uma dessas viagens trouxe-me um gira-discos portátil e dois EP dos Beatles (“Any Time at All” e “A Hard Days Night“).

Aquele pequeno gira-discos cinzento, foi um sucesso na Avenida Gomes Pereira, onde eu vivi até aos 13 anos. Eu e os meus amigos Vargas e Vitor, ouvimos aqueles dois EP até as espiras ficarem gastas.

Só aos 15 anos comprei o meu primeiro disco dos Beatles, o White Album, que saiu em 1968. Poupei dinheiro andando à pendura, nos eléctricos, entre o Arco do Cego e S. Sebastião (era uma zona: poupavam-se tostões!). Só mais tarde comprei o Sgt. Peppers.

Não é o meu disco preferido; gosto mais quer do White Album, quer do Abbey Road. Mas temos que concordar que o Sgt. Peppers veio elevar muito a fasquia do pop-rock.

Lennon, McCartney, Harrison e Ringo criaram um produto homogéneo, com uma capa que ficou na história e com um conjunto de canções mais ou menos ligadas entre si, das quais tenho que destacar A Day in the Life.

Praticamente todas as canções têm algo de inovador, desde o uso de fita gravada correndo ao contrário, até à incorporação de vozes de animais, sons distorcidos,etc.

Dificilmente se lançaria, hoje em dia, um disco com tantos hits potenciais. Juntar, no mesmo disco, Lucy in the Sky with Diamonds (que a BBC baniu por supostamente ser um hino ao LSD), Getting Better, Lovely Rita, With a Little Help from my Friends, She’s Leaving Home, When I’m Sixty Four, Fixing a Hole, Within You Withou You, Good Morning Good Morning, Being for The Benefit of Mr. Kite, Sgt. Peppers e terminar, em apoteose, com A Day in the Life, com aquele crescendo de orquestra, era, de facto, esbanjar, esbanjar…

E ainda sobraram Penny Lane e Strawberry Fields Forever

Em 1967 saiu, também, outro concept album muito importante, hoje quase esquecido. Falo de Days of Future Passed, dos Moody Blues, percursor do rock sinfónico ou rock progressivo. Qualquer dia falarei sobre ele.

Já passaram 45 anos!

Xiça! Estou a ficar velho!

 

Procol Harum in Concert…in Denmark

Procol Harun – uma banda cujo nome deriva de um gato – nasceu de uma ideia de Gary Brooker (pianista, vocalista e compositor) e Keith Reid (autor das letras).

Em estúdio, gravaram “A Whiter Shade of Pale”, em 1967. O êxito foi tão grande que não havia outra solução, senão criar uma banda que suportasse esse êxito.

Os Procol Harum foram uma das bandas mais importantes do chamado rock progressivo ou rock sinfónico e, hoje em dia, pouca malta nova sabe da sua existência. Fazem mal.

Os Procol Harum souberam, como poucos, unir, harmoniosamente, a música “sinfónica” aos temas mais pop-rock, ainda por cima, com letras de qualidade.

Com meia dúzia de álbuns, a banda criou uma série de clássicos que, com diversas roupagens sinfónicas, continuam a surpreender.

Sou suspeito, porque sempre gostei dos PH. Aliás, o primeiro concerto rock a que assisti, foi dos Procol Harum, no Pavilhão de Cascais, em novembro de 1972. O som era péssimo e não me lembro de nada, a não ser do facto de estar, algures, lá em cima, nas bancadas e, lá em baixo, estarem uns gajos a fazer barulho. Não sei sequer que temas tocaram! Às tantas, alguém terá gritado que andava por ali a polícia (era habitual, naqueles tempos) e a malta começou a correr em direcção à saída. Acho que nem ouvi os encores, se os houve…

Um ano antes, em 1971, os PH tinham gravado um álbum histórico – “Procol Harum Live in Concert with the Edmont Symphony Orchestra”, em Alberta, Canadá.

Nessa altura, a banda era formada por Gary Brooker (voz e piano), Keith Reid (letras), B. J. Wilson (bateria), Alan Cartwright (baixo), Chris Copping (teclas) e Dave Ball (guitarra). Ainda tenho o vinil, comprado em 1985.

Em 2008, os Procol Harum actuaram nos jardins do Palácio de Ledreborg, a oeste de Copenhaga. Tocaram com a Orquestra e Coro Nacionais da Dinamarca.

Nesta gravação, além do fundador Gary Brooker, Joseph Phillips toca órgão. Geoff Whitehorn toca guitarra, Mark Brzezicki encarrega-se da percussão e Matt Pegg com o baixo. Destaque para as versões sinfónicas de Homburg, A Whiter Shade of Pale e Grand Hotel, entre outras.

Com 63 anos, na altura, Gary Brooker estava ainda em grande forma – e isto sugere-me uma pergunta: este tipo de música desaparecerá com a morte dos seus autores/intérpretes?