5 anos sem fumar!

Faz hoje 5 anos que deixámos de fumar! Fumámos durante 39 anos e agora, custa-me a perceber como fui capaz de fumar durante tantos anos!

Para quem ainda fuma, aqui fica a prova provada de que é possível, desejável, vantajoso e formidável, estupendo, fantástico e abracadabrante deixar de fumar!

Tudo melhora: o olfacto, o paladar, a resistência física, a libido, a respiração, a saúde em geral, o apetite, as finanças, a limpeza da casa e do carro, diminui a possibilidade estatística de teres um acidente cardiovascular e/ou um cancro, os beijos têm mais sabor, as viagens de avião são mais fáceis de suportar, não precisas de fazer figuras tristes nos aeroportos, a correr lá para fora, para poderes fumar um cigarrinho, terminas a refeição calmamente e saboreias o café nas calmas, sem a preocupação de ter que acender o cigarro, diminui a possibilidade de incêndio na habitação, podes brincar com os teus netos, sem medo de os queimares com o cigarro ou de os intoxicares com o fumo, deixas de fazer figuras idiotas a tentar acender cigarros quando está vento e, sobretudo, deixas de fazer aquelas boquinhas parvas a tentar fazer argolas com o fumo, acabam-se os dedos amarelos, acabam os cinzeiros pirosos a servir de biblots em tudo o que é mesa de apoio, armário ou prateleira, já não precisas de fumar um cigarro depois do orgasmo e podes ocupar as mãos e a boca com coisas mais interessantes, as caminhadas são mais fáceis, já não entras em pânico se o elevador estiver avariado e tiveres que subir 6 andares a pé, deixas de ter o teclado do computador cheio de cinza e vais sentir-te bem, muito bem – e, sobretudo, sentir-te-ás livre!

Fanático de popós

Lê-se e não se acredita!

Os factos: o empresário Manuel Leitão é responsável por uma publicação chamada Porto Menu. Na capa dessa revista, vê-se uma foto de uma rua do Porto e, na parede de um edifício, a inscrição – “RIO ÉS UM FDP”.

Rui Rio ficou muito zangado.

Achou que “fdp” queria dizer “filho da puta”.

Portanto, toca a meter o Manuel Leitão em tribunal.

Sonso, Leitão argumenta que “fdp” não quer dizer “filho da puta”, mas sim “fanático dos popós”.

Sim! Manuel Leitão afirma que fdp quer dizer fanático dos popós!

O tribunal, no entanto, não foi na conversa e concluiu que a capa da tal revista é ofensiva “por permitir concluir que visa apelidá-lo (a Rui Rio) de filho da puta”.

A juíza foi mais detalhada, sentenciando: «quem ler Rio és um fdp na parede de um edifício da cidade, certamente no seu espírito não lerá Rio és um fanático dos popós ou és um filho de Deus».

Curiosa, esta frase da juíza, já que recorre ao “espírito” do leitor, seja lá o que isso for…

Portanto, se o leitor tiver um bom espírito, olha para FDP e lê fanático dos popós, furibundo dos pentes, fragilizados dos pés, fantástico dos pães-de-ló, ou mesmo, forrado de papel.

Só que o leitor tem um mau espírito e lê filho da puta! Sempre!

Ditosa pátria que tais filhos (e fdp) tem…

É caso para recordar aquela frase clássica: “As putas ao poder! Os filhos já lá estão!”

Quem quer cheirar os pastorinhos?

Será inaugurado amanhã, “O Milagre de Fátima” – um espaço que recria as aparições da virgem aos três pastorinhos, recorrendo a hologramas, sons e – pasme-se! – odores!…

Isso mesmo, odores!

Já acho bizarro haver pessoas que queiram ver e ouvir a recriação das alucinações dos pastorinhos.

Mas estranho mesmo é pagar um bilhete para cheirar as aparições.

Uma vez que a cena envolveu três pastores, será que se sente o cheiro das caganitas das ovelhas?

Acrescente-se que “O Milagre de Fátima” custou um milhão de euros!

Anda a malta a dar sacos de arroz e bolachas ao Banco Alimentar e os padrecas a esbanjar um milhão de euros com disneylandias marianas!

O Álvaro quer ultrapassar o Coiso

Álvaro, vou-te dizer uma coisa: não é qualquer um que ultrapassa o Coiso.

Eu sei que viveste, estudaste e ensinaste no Canadá, mas isso não te dá o saber suficiente para conseguires ser mais rápido que o Coiso.

Recordo o que disseste na Assembleia da República:

«O desemprego tem que ser uma preocupação de todos nós. E todos nós temos que trabalhar em conjunto, sindicatos, patrões e partidos para conseguirmos ultrapassar este coiso».

Que mal é que eu te fiz, pá?

Que mal é que eu te fiz para que queiras trabalhar em conjunto com os sindicatos, os patrões e os partidos, só para me ultrapassares?

Bem sei que tenho brincado um pouco com essa tua toleima, porque é toleima essa coisa de quereres ser tratado pelo nome próprio, como se quisesses fazer parte de todas as famílias, mesmo das famílias dos desempregados que ajudaste a criar.

Mas o Coiso é uma página simples e despreocupada, que não merecia essa tua raiva.

É desmesurado, Álvaro.

Por favor, Álvaro Santos Pereira, deixa-me o Coiso da mão!

Coisas Antigas – Dulcídia, uma mulher preocupada com o futuro

Quando Dulcídia nasceu, todos foram unânimes: tinha os olhos da mãe, a boca do pai, o nariz da avó e as mãos de um tio que vivia na Austrália.

O nascimento de Dulcídia significou, portanto, a mutilação de quatro membros da sua família. E este facto marcou Dulcídia para sempre. Marcou-a, mais precisamente, numa nádega, pelo que só se via quando estava de costas. Por isso, Dulcídia nunca se punha de costas, para que não se lhe notasse a marca.

“É registada?” – perguntavam os amigos mais íntimos, aqueles tão íntimos que tinham o privilégio de ver a marca.

Mas a marca de Dulcídia não era registada. E apesar de muito imitada, nunca conseguira ser igualada. Era uma marca única!

Mas Dulcídia era uma rapariga com azar. Como a mãe era míope e ela tinha os olhos da mãe, foi obrigada a usar óculos. Como o pai sofria de cárie dentária e ela tinha a boca do pai, andava sempre com dores de dentes. Como a avó tinha sinusite, Dulcídia tinha sempre o nariz a pingar. E como o tio da Austrália roía as unhas, Dulcídia não as podia pintar.

Enfim, azares de Dulcídia, compensados pelo seu magnetismo pessoa, capaz de atrair qualquer um.

Mas Dulcídia temia o futuro: míope, com cárie, sinusite e sempre a roer as unhas, como poderia ela arranjar um emprego decente e monetariamente compensador?

É que Dulcídia começava a entrar na casa dos trinta, deixando para trás os tempos despreocupados da adolescência e as quatro pensões de invalidez que recebia não chegavam para a sustentar. Dulcídia era uma mulher de muito alimento.

Por isso, começou a andar cabisbaixa, ensimesmada, deprimida e outras coisas semelhantes.

Os amigos tentavam confortá-la.

Dizia um: «deixa lá, Dulcídia!… Míopes há muitos… um até conheço um zarolho que é míope, vê lá tu!…»

Mas Dulcídia não via lá muito bem, como já foi dito.

E dizia outro amigo: «não te preocupes!… Arranca os dentes e usa placa!”

Mas Dulcídia não ia à bola com placas porque não gostava de futebol.

E outro amigo dizia ainda: «não te rales!… tu tens sinusite, e eu sofro de rinite, faringite, pirite e calcopirite! Um mal nunca vem só!»

Mas com o mal dos outros, podia Dulcídia bem. Com o que ela não podia era com os seus males, os seus defeitos, que a impediam de encontrar um emprego compatível com os seus inegáveis dotes intelecto-corporais.

Por tudo isso, Dulcídia temia o futuro.

Mas um dia, já depois das 4 horas, o futuro chegou e afinal era bom!

Graças à miopia, fez anúncios para lentes de contactos. Com a ajuda das cáries, anunciou pastas dentífricas ricas em fluor. A sinusite permitiu-lhe fazer spots de pingos para desintupir o nariz e pílulas para as dores de cabeça. E a sua mania de roer as unhas serviu na perfeição para o conhecido anúncio de pastilhas elásticas: «não roa as unhas, mastigue Elastex – a pastilha que nunca esquece!».

E mais uma vez ficou provado que a função faz o órgão e a publicidade faz o resto!

– in Pão Comanteiga, Rádio Comercial, 29.5.1983 (Tema: o Futuro)

Coisas antigas – O futuro geopolítico

A Grã-Bretanha adoptará definitivamente o fleumatismo maoista, fará um aliança com Singapura do Norte, a Malásia e Dodge City, declarando guerra à Frente Lesoto-Botswana. Entretanto, os Estado Unidos – que mudarão o seu nome para Estados Unidos da América e Sucursais S.A.R.L. – decidirão acabar com eleições livres. Passarão a ser semi-livres, o que quer dizer que o cidadão terá a liberdade de votar em quem quiser, desde que seja um determinado candidato, escolhido por computador.

Tudo isto provocará largas repercussões na União das Variadíssimas Repúblicas Soviéticas E.P. que, por retaliação, invadirão o Nepal. Só para chatear, as cinco Alemanhas e as duas Bélgicas, juntar-se-ão ao Rochedo de Gibraltar (superpotência que integrará Espanha, Marrocos, Argélia e Setúbal) e, todos juntos, invadirão também o Nepal.

A confusão aumentará consideravelmente quando a Aliança Luso-Greco-Turca (únicos sobreviventes da antiga CEE), decidir arrasar todos os países começados por M, invadindo, logo de seguida, o Nepal.

Por tudo isto, o Nepal passará a ser a região do globo com maior densidade populacional e o resto do mundo não passará de um deserto chato…

in Pão Comanteiga, Rádio Comercial, 29.5.1983 (Tema: Futuro)